No solstício de inverno, que no hemisfério sul acontece por
volta de 21 de junho e no hemisfério norte 21 de dezembro, ocorre a festividade
de Yule. Ele marca a ocorrência de um evento de extrema
importância para muitas culturas, sendo este evento possuidor de uma
carga simbólica muito forte. Tão forte a ponto de se refletir até hoje em nossa
e diversas outras culturas do mundo moderno. Estou falando sobre o retorno
do sol, ou utilizando a mitologia abordada aqui no blog sobre a
Roda do Ano, o retorno/renascimento do deus Sol. Primeiramente, para entender o
simbolismo do Sabbat de Yule é preciso entender como funciona um solstício.
Os solstícios são
os pontos máximos de distância que o sol tem em relação à Terra. Enquanto que
no solstício de verão, que se comemora o Sabbat Litha, temos o Sol no seu auge,
ou seja, no ponto mais próximo da Terra, no solstício de inverno temos o sol no
seu ponto mais distante dela. Nesse dia ocorre a noite mais longa do ano,
e logo após ele, o sol retorna aos poucos e vai ganhando forças até atingir
novamente seu ápice, dando assim continuidade ao movimento cíclico da Natureza.
Esse retorno do
sol é simbolicamente representado em diversas culturas pelo nascimento da
criança da promessa ou o nascimento da esperança, e a partir desse simbolismo
se é criado mitos, ritos e festividades em torno deste evento de solstício de
inverno. E nele, como já dito, celebra-se Yule.
Em tradições
wiccas, honra-se o deus chifrudo nessa época, pois ele domina a parte
escura da Roda do Ano, da qual Yule faz parte. E em muitas outras culturas era
prestado o culto ao sol, pois o solstício de inverno marcava o nascimento dele.
Na atualidade
existem diversas maneiras de celebrar o Sabbat de Yule, pois com o decorrer do
tempo criou-se um sincretismo de diversas culturas do simbolismo da chegada do
inverno, e com isso ele possui muitos elementos de diversos povos, e um exemplo
claro disso é o natal, que incorporou muito das festividades de Yule, o que
veremos mais à frente. Mas primeiro vamos ver um pouco dos mitos mais famosos
no mundo em torno desse evento, que são relevantes para entender mais sobre
esse Sabbat.
Os mitos do solstício de inverno
Saturnália
Na Antiga Roma,
durante o período do solstício de inverno ocorria uma festividade chamada Saturnália
em honra ao deus Saturno, que ocorria entre 17 à 25 de dezembro. Uma
festividade de rito agrícola, uma vez que Saturno teria ensinado à humanidade a
arte da agricultura, e assim, durante esse período em que ocorria a festividade,
pedia-se ao deus que o inverno fosse brando e as próximas plantações e
colheitas fossem bem sucedidas.
Nessa festa
costumava-se trocar presentes, visitar amigos e havia uma interessante inversão
de papéis sociais, como os escravos ficarem livres para se divertirem e serem servidos
pelos seus donos. E dela se origina a troca de presentes do natal. Era costume
também pendurar recortes de arbustos nas casas e ornamentos de metais nas
árvores, geralmente representando o deus Saturno.
O deus Mitra
Nessa mesma época
de solstício de inverno, o dia 25 de dezembro era o dia do nascimento do deus
Mitra.
Mitra é
considerado o deus do sol da antiga religião de mistérios, de caráter
Iniciático, que hoje chamamos de Mitraísmo. Embora Mitra seja da mitologia
Persa, a religião desenvolvida em torno desse mito foi muito forte em Roma e
adepta de muitos soldados romanos. Por vezes os elementos do deus Solis
Invictus e Apolo se misturavam com o de Mitra, e por vezes eram considerados um
só.
Seu mito diz que
ele é filho do deus do céu Ahura Mazda, um dos principais deuses do
zoroastrismo.
“Mitra era
entendido como um deus essencialmente bom, responsável pela criação da luz, e
que travava uma luta permanente contra a divindade obscura do mal, Ahriman. Ao
nascer, foi adorado por pastores, sendo que o acontecimento mais marcante da
história do mito foi a luta simbólica de Mitra contra o touro sagrado (ou touro
equinocial) que ele derrotou e sacrificou em prol da humanidade.
Seu culto estava
associado à crença na existência futura absolutamente espiritual e libertada da
matéria, capaz de oferecer uma esperança de salvação, tal como o cristianismo.
Entre seus rituais, a purificação mediante o batismo era necessária para obter
a vida eterna.”
Assim temos no
mito de Mitra o nascimento de um deus Solar próximo ao solstício de inverno. E
dessa data foi-se adotado pela antiga Igreja Apostólica Romana o nascimento de
Jesus Cristo. E o natal como conhecemos hoje vai se formando aos poucos.
A batalha do Rei Carvalho x Rei Azevinho
Um dos mitos mais
famosos dos solstícios é a batalha do Rei Carvalho e do Rei Azevinho. Eles são
os aspectos Luz e Sombra da Roda do ano, numa batalha cíclica em que um ganha
do outro em cada solstício. Em Yule, o deus Carvalho derrota o deus Azevinho, declarando
assim o reinado do sol e a volta da luz. A partir de então, após a maior noite
do ano, os dias vão se tornando maiores.
Esse é um mito famoso entre os celtas, e era uma
maneira de contar o motivo desses ciclos da natureza. Diversas pinturas a
respeito desses deuses, principalmente do deus Azevinho, lembra muito o
personagem do famoso papai Noel, mas sua real origem remonta da figura de São
Nicolau. Mas falando em Papai Noel, temos uma historinha bem interessante sobre
o deus Odin.
Odin passeando pelo céu
Essa é uma lenda que
se conta a respeito do deus nórdico Odin. No solstício de inverno em que
ocorria o Yuletide, celebrações dessa época, é dito que Odin concedia presentes
para seu povo, montado num cavalo voador mágico pelo céu. Pode ser que essa lenda
tenha influenciado na formação do mito do Papai Noel. Outra lenda sobre Odin nessa
época é que ele costumava fazer voos noturnos pelo céu, observando as pessoas
para decidir quem iria morrer ou prosperar, e então por medo disso muitas
pessoas ficavam dentro de suas casas.
O Sabbat de Yule
Yule é uma festividade
de origem pagã e germânica que consiste na celebração do retorno do sol após o
período em que as noites se tornaram maiores que o dia. E apesar do rigoroso
inverno que estaria por vir, pois Yule é a chegada do inverno, lembrando que no
hemisfério norte principalmente para os povos antigos ele era bem mais rigoroso,
havia o nascimento da esperança. Da esperança de que aos poucos o sol ganhava
mais forças, do calor essencial para sobrevivência, de que o solo em breve
geraria vida novamente, de que em breve a vida poderia voltar a ser produtiva,
pois de certo modo o inverno era limitante.
Com isso Yule
carrega o sentido do nascimento da esperança, do mito do nascimento do deus
sol, e que consequentemente gerou outros mitos similares como o da criança da
esperança.
Era costume
acender fogueiras nessa época, pois apesar de ser a fase de Sombra da Roda do
Ano o culto ao sol ou deuses solares era comum por se tratar de uma celebração à
luz. E nisso surge a tradição da tora de Yule.
Era colocada na fogueira uma tora de madeira que seria queimada na noite do solstício de inverno. Essa tora era especial, geralmente um pedaço de tronco de carvalho ou freixo, decorados por ramos de folhas verdes como cones de pinheiro ou folhas de azevinho. As cinzas dessa tora eram utilizadas como propriedade mágica, proteção da casa e da família e para afastar maus espíritos. Hoje em dia a tora de Yule é utilizada na noite da celebração, não precisa ser especificamente um pedaço de carvalho ou freixo, ainda é enfeitada e se utiliza como base para 3 velas.
Árvores como pinheiro, cedro e zimbro são associadas à proteção e prosperidade, pois no inverno, enquanto as demais árvores perdem suas folhas, essas se mantêm sempre verdes. Era costume então trazer pedaços delas para decorar a casa.
Elementos do Sabbat de Yule
Altar de Yule
Estes são apenas alguns exemplos:
Ervas e plantas:
-Erva-doce
-Alecrim
Incensos:
-Louro
-Pinho
-Cedro
-Alecrim
-Mirra
-Erva-doce
Velas:
-Branca
-Verde
-Vermelha
-Dourada
Pedras:
-Olho de gato
-Rubi
-Diamante
-Ouro
Comidas:
-Mel
-Grãos
-Sementes
-Aves
Bebidas:
-Cerveja
-Bebidas gaseificadas
Como
já disse em textos anteriores referentes aos Sabbats, aqui no momento não
ensino nenhum ritual para celebração deles, pois existem diversas vertentes que
os celebram e cada um com suas particularidades. Apenas proponho a quem queira
celebrá-los que pesquise sobre os diversos rituais de celebração que existem e
busquem os que te fazem sentir bem ou que sinta afinidade.
Yule sob perspectiva hermética
Os Sabbats compõem a Roda do Ano e nos mostram que, assim como a natureza, nossas vidas também possuem ciclos, e por meio deles podemos nos sintonizar com ela e assim aprender os ensinamentos dessas passagens.
Yule do ponto de
vista hermético pode se tratar do cultivo da esperança, pois mesmo que nos
momentos mais difíceis da vida em que a escuridão esteja reinando, simbolizado
pela maior noite do ano, a luz do sol voltará a brilhar, então não perca as esperanças,
pois tudo é um ciclo. Um momento ou fase ruim não faz a vida ser resumida a
isso, não a faz ser um fardo, mas são esses momentos em que muitas vezes contribuem
para nosso crescimento, pois sem desafios não nos tornamos melhores, não nos
lapidamos em nossas melhores versões.
Comemore esse renascimento
do sol, a luz que há dentro de você retornando, a chama da esperança de uma
vida que pode ser vivida na plenitude da essência do seu Ser. O sol há de
brilhar mais uma vez, acredite!
Referências bibliográficas:
-Wicca
A Feitiçaria Moderna, o livro das ervas, magias e sonhos – Gerina Dunwich
https://www.infoescola.com/religiao/mitraismo/
https://www.history.com/topics/christmas/history-of-christmas
https://www.learnreligions.com/deities-of-the-winter-solstice-2562976
https://www.learnreligions.com/sacred-plants-of-the-winter-solstice-2562958
https://www.learnreligions.com/make-a-yule-log-2563006
http://misteriosdeavalon.blogspot.com/2011/06/ritual-de-yule.html
https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-15567/saturnalia/
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