Texto de Adriano
Camargo Monteiro
“Meu sistema nervoso é meu único deus”.
Isso pode ser uma metáfora, ou pode ser literal…
Experiências não dependem de crenças, mas as crenças muitas vezes surgem das experiências. As experiências são interpretadas conforme a crença de cada um, conforme o “filtro” psicossocial-religioso de cada indivíduo, e podem ser tão reais como sentir o sabor de uma comida. O indivíduo sente e experimenta, e isso é real para ele; a experiência em si, puramente, nada tem a ver com religião; a religião é o “mau” filtro que a interpreta.
Experiências são experiências, e são sentidas e vivenciadas, trazendo sensações físicas, mentais e emocionais que podem ser intensas ou fracas. É preciso entender que dogmas científicos nada têm a ver com a experiência individual em si, assim como a religião também não; é a religião do indivíduo que reveste experiências ocorridas em nível mental/espiritual com interpretações religiosas (muitas vezes pessoais e tendenciosas). Isso não acontece com indivíduos sem vínculos religiosos e dogmáticos.
“Meu sistema nervoso é o único diabo”. O sistema nervoso pode trazer prazer ou dor como experiências e verdades individuais. Podem estar no sistema cérebro-espinhal a origem do céu e do inferno, dependendo da experiência e dos estados alterados em variados graus por variados meios, tais como ingestão de substâncias psicoativas, disciplina físico-mental, meditações, rituais, exercícios físicos extremos, privações (e “provações”) extremas, etc. O inferno não existe (ou existe, se as pessoas quiserem acreditar numa ilusão forjada). “Inferno” quer dizer “o que está embaixo”, “inferior”. E, de fato, aquilo que é inferior depende muito do referencial e do ponto de vista de cada um, com suas devidas justificativas, idiossincrasias e discernimento. O “inferno” de uma pessoa pode ser considerado um paraíso para outra. Mas, muitas vezes, quase tudo é o inferno e o Diabo para o “religioso” fundamentalista.
Contudo, é óbvio que nem todo mundo quer experimentar coisas novas ou
diferentes em seu próprio cérebro, mente e espírito, por motivos diversos
(tabus; preconceitos; desinformação; receios; medo do desconhecido, sendo o
desconhecido o próprio indivíduo para ele mesmo; etc.) Mas o fato de que
céticos tenham medo, receio ou preconceito com experiências cerebrais (mentais
e emocionais) não muda o fato de que tais experiências existem como
experiências em si, sejam elas chamadas de fantasias, alucinações ou fenômenos
religiosos e místicos. A experiência existe e pronto; nem a ciência nem a
religião mudam esse fato. Nada do que a ciência (e a religião) diz sobre isso,
importa para o indivíduo psiconauta; não importam teorias científicas nem
dogmas religiosos. Muitos pseudocientistas apenas teorizam e repetem teorias de
outros sem ao menos fazer uma pesquisa em si mesmos, experimentando no próprio
sistema nervoso a experiência “transcendental” (que transcende o comum e o
corrente, o banal e o conveniente). Então, são apenas teorias para categorizar
e classificar fenômenos cerebrais. E a real experiência com o assunto? Não há.
É importante ter em mente que somente as experiências deveriam valorizar e
validar qualquer opinião. Além disso, a única coisa que importa para um
indivíduo é a experiência que ele vivencia. E é importante apenas para ele, não
para o mundo, nem para a humanidade, nem para a ciência ou para a religião; a
experiência é importante para quem a experimenta. E, desde que o indivíduo não
queira impor à força crenças e dogmas baseados em sua experiência, ou criar
religiões doentias, não importam também as interpretações que ele tenha de sua
experiência. As teorias científicas nesse caso nada importam porque elas não
mudam os fatos nem apagam as experiências individuais. Nossa visão, audição,
olfato, etc., funcionam, obviamente, porque temos cérebro. Outras experiências
também ocorrem por causa do cérebro, experiências que não são comuns e
correntes porque o cérebro é “alterado” em seu funcionamento. Nada de
sobrenatural. São apenas experiências que não ocorrem normalmente porque o
cérebro também está condicionado ao comum e corrente, ao banal da vida
cotidiana e ao normal das percepções dos sentidos. Mas quando o cérebro é
alterado, o indivíduo experimenta outras sensações, outros sentidos além dos
sentidos comuns, emoções não habituais, novas percepções, novos conhecimentos,
etc.
Exemplos sobre experiências individuais podem ser qualquer coisa. Alguém pode
ter uma experiência maravilhosa numa viagem (ou em qualquer outra coisa) e
contar a outro como foi. O outro jamais vai saber como é a experiência se não
fizer essa viagem, sendo que ainda poderá experimentar sensações diferentes
nessa mesma viagem, ou ainda não sentir nada e achar que a pessoa está
inventando, exagerando ou mentindo sobre sua experiência. Como alguém pode
dizer que sua experiência mental e emocional é falsa, que é uma fantasia, só
porque outros não tiveram a mesma experiência? Como pode desvalidar a
experiência emocional, física e mental só porque outros não vivenciaram as
mesmas coisas? Como pode dizer que a pessoa está inventando e que sua
experiência não pode ser comprovada em laboratório como fato incontestável para
a humanidade? Esse é o ponto da questão. Ninguém pode contestar a experiência
de ninguém porque ela é unicamente individual, pessoal e intransferível,
vivenciada por um indivíduo, e que jamais outra pessoa (seja cientista, crente,
descrente, etc.) poderá sentir, ou talvez chegar próximo. É uma verdade
individual incontestável, e não alienações coletivas impostas à força ou sob
ameaças dogmáticas.
Assim são as experiências que ocorrem no cérebro/mente/espírito (como queira chamar) de cada indivíduo. Sim, espírito. Porque o espírito autoconsciente pode ser considerado a contraparte invisível de um cérebro potencializado e totalmente em atividade, funcionando em toda a sua capacidade, além do cotidiano, muitas vezes medíocre. Mas, apesar de tudo, é claro que ninguém é obrigado a experimentar nada mais além. Porém, negar que experiências individuais existam seria tão fanático e dogmático quanto qualquer postura fundamentalista e intransigente. Há fanatismo entre ateus e há fanatismo na religião, especialmente quando, em certos assuntos, somente há teorias sem a experiência pessoal no próprio sistema nervoso e quando ditam regras e lançam anátemas.
Nem a ciência nem a religião podem ditar “regras” sobre experiências
individuais; nem a religião nem a ciência podem cercear a natureza humana nem
regrar dogmaticamente vontades e desejos. Esse é o ponto. Além disso, a ciência
(com toda a sua inegável utilidade) e a religião servem ao sistema
(sociopolítico-econômico), que busca impedir que as pessoas tenham experiências
diferentes do comum e impedir que busquem expandir a consciência; o sistema
obviamente faz de tudo para desestimular e desacreditar tais experiências e
disseminar ideias preconceituosas nas massas controladas por interesses
políticos, por dogmas e tabus sociorreligiosos e por teorias cientificistas
total ou parcialmente impostas, por vezes sutilmente. O cérebro humano é muito
limitado em seu estado “normal”, podendo ter suas atividades potencializadas e
expandidas. Mas isso parece não ser interessante para o sistema sociopolítico-religioso.
Muitas pessoas ao redor do mundo, pessoas de extremo senso comum e
completamente desinformadas, criticam depreciativamente a busca por
experiências, a busca pelo prazer e a busca pela expansão da consciência que
são empreendidas por diversos meios, tais como aqueles já mencionados
(substâncias, rituais, práticas físicas e mentais, etc.). Por outro lado,
milhões de pessoas têm cometido os piores desatinos, as piores barbaridades e
atrocidades sem estar sob o efeito de coisa alguma. Milhões de pessoas causam
acidentes, matam, roubam, humilham umas às outras, sofrem e fazem sofrer sem
estar sob o efeito de nada mais que sua própria ignorância, miséria interior e
degradação, o que nem a ciência nem a religião podem “curar”. Milhões sofrem de
problemas psicológicos, traumas, complexos, manias, psicoses profundas, sem ao
menos beberem álcool (sendo o álcool a droga da hipocrisia que rende ao sistema
milhões em dinheiro enquanto milhões de pessoas fracas são aprisionadas pelo
vício). Milhares enlouquecem e se matam após voltar dos horrores da guerra (uma
coisa “normal”, comum e corrente!), sem saber sequer da existência de meios que
alteram a consciência (sadia e positivamente). O mundo é louco e ninguém é
normal nem está completamente em sua sanidade, como as pessoas supõem.
É preciso ter a mente aberta e discernimento. O fanatismo pode existir em todos
os lugares: na religião, na ciência, no entretenimento, no lar… O preconceito
também existe em todos os lugares: na religião, na ciência, na sociedade, nas
famílias, etc… É interessante para o sistema que as pessoas não conheçam nada
além do comum e corrente, nada além do que é oferecido sob controle e com a
marca da restrição. As informações mais interessantes talvez não estejam
abertamente disponíveis para as massas, não são divulgadas porque é
interessante para o sistema que as pessoas não saibam e não avancem. Mas,
afinal, nem todo mundo está preparado para mais, para o “desconhecido”, para
conhecer a si mesmo. A ciência, a religião e a cultura divulgam informações (e
desinformações) controladas, difundem apenas o que eles querem que as pessoas
saibam, divulgam aquilo que serve para desestimular as pessoas de buscarem
mais, de experimentarem mais, de irem além dos limites que o sistema impõe, disseminando o
medo, a cisma e os preconceitos científicos, religiosos e sociais. Isso tudo
parece evidente.
Muitas teorias não mudam os fatos e, nesses assuntos, não levam a nada. Certas
teorias apenas desestimulam a busca pela experiência, pois as pessoas meramente
dizem crer e evitam experimentar. E aqueles indivíduos inteligentes, de mente
livre e discernimento não pretendem impor suas experiências ao mundo nem mudar
as massas cegas. Afinal, o sistema já tem a sociedade no cabresto, já
estabeleceram a conveniência e o que as pessoas devem fazer e o que devem
pensar.
Passar a vida preso a limitações cotidianas e banais, para muitas pessoas é
algo muito triste, deprimente e desestimulante; a vida sempre pode ser mais do
que o comum e corrente. E muitos felizmente estão contra essa corrente
limitadora, contra a “moral”, como dizem, e subvertem os paradigmas usuais e
condicionados. Muitos não se contentam com essas limitações, com tantas regras
inúteis e proibições pseudomorais baseadas em interesse sociopolítico e
dominação religiosa, difundidas por meio de desinformações e preconceitos,
“blasfemando” o deus/diabo cerebral individual com suas próprias verdades.
Lembre-se de que Deus e o Diabo estão na sua cabeça. Um faz se passar pelo
outro e você, mesmo que não perceba, faz se passar pelos dois!
Adriano C. Monteiro é escritor de Filosofia Oculta, articulista em
diversas mídias e autor da Tetralogia Draconiana, que inclui as obras O Jardim
Filosofal, A Cabala Draconiana, A Revolução Luciferiana e Sistemagia.
Retirado de: https://projetomayhem.com.br/deus-e-o-diabo-estao-na-sua-cabeca/
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