Sua Estrela Guia - Tzaddi, o 28º Caminho - Kabbalah Hermética


Letra hebraica Tzaddi



Título: O governante

Inteligência: Inteligência Natural

Localização: Entre Netzach e Yesod

Significado: Anzol

Valor Gemátrico: 90 ou 900

Anjo: Malkiel

Qliphot: Tzuflifu

Cor: Violeta

Incenso: Gálbano

Animais: Pavão, águia

Seres Lendários: Ninfas, loreleis, sereias

Pedras: Vidro, calcedônia

Plantas: Oliveira, coco

Árvores: Sabugueiro

Correlação: Aquário

Correspondência no corpo humano: Rins e bexiga

Tarot: A Estrela

Poderes: Astrologia, oráculos

Símbolos: Incensário, incenso



O 28º Caminho é Tzaddi, une as emoções e inspirações de Netzach à intuição, imaginação e fundamento de Yesod. Aqui a emoção é fundamentada por uma inspiração mais elevada. É o vir a ser, vir a se tornar. É um sentimento que não pode ser intelectualizado, mas apenas sentido. É o sentimento daquilo que nos toca por dentro. É a estrela que te guia pelo caminho das emoções que de algum jeito lhe inspira a ir por elas, e que também mexe com sua fé. E atente-se que fé não existe apenas no contexto religioso. Entenda ela aqui como a crença em algo que não intelectualizamos e sim apenas intuímos.

Por que Tzaddi mexe com nossa fé e com nossa intuição? Qual o porquê disso?

Netzach tem uma ligação direta com a esfera de Tiferet, a esfera do Eu Superior, de nossa verdadeira essência, do Sagrado Anjo Guardião (SAG), em essência é a esfera do nosso objetivo de vida do vir a fazer e se tornar. Logo, Netzach, recebe as emanações de Tiferet, e por meio das emoções, fé e inspirações que ela emana, carrega em si uma parte de nossa centelha divina.

Ao caminhar pelo caminho de Tzaddi, estamos sendo guiados por um feeling mais elevado. Estamos seguindo o famoso caminho do coração, porque essa intuição que nos faz segui-la vem de um Plano Superior, vem de nossa essência mais elevada espiritualmente.

É o caminho que sugere “a necessidade de Espiritualizar a Personalidade e lhe propõe aspectos e Estados Superiores e mais altos de consciência que propicia o domínio sobre a tirania das circunstâncias.” [¹]

Na Kabbalah Hermética, as 3 esferas inferiores (YesodHod Netzach) formam o chamado Eu Inferior, a nossa personalidade e atual encarnação. Acima delas está a esfera de Tiferet, a centelha divina e de nossa Individualidade. Entenda a Individualidade aqui como o Eu Superior. Por meio de Tzaddi buscamos seguir a força que nos guia por meio das emoções, geralmente através da intuição e da fé, fazendo com que a nossa Personalidade seja um reflexo de nossa Individualidade, e ela pode ser expressa por meio das Emoções Superiores (Virtudes Divinas) e imaginação criativa e inspirações (as artes).

E trilhar o caminho de Tzaddi pela intuição e fé com o objetivo de buscar emoções mais elevadas, as emoções divinas emanadas de Tiferet em Netzach, faz com que a Personalidade seja sacrificada quando chegar ao caminho de Nun, através de Netzach, transformando-a e unificando à Individualidade. Algo muito similar ao conceito do processo de Individuação de Jung.

“O 28º Caminho é chamado INTELIGÊNCIA NATURAL. Por ela é completada e sofisticada a natureza de tudo aquilo existe debaixo do Sol.”  - Sefer Yetzirah

Esse é um caminho de energia feminina, pois fica entre a esfera de Vênus e da Lua. Um fluxo de energia bem instintivo e intuitivo. Oráculos que envolvem o uso da intuição ao invés de um sistema de codificações como no Caminho de Resh se encaixam aqui.



  A piromancia, cafeomancia e cristalomancia são exemplos de oráculos que se encaixam em Tzaddi


Em contraparte à Tzaddi existe a Qliphot Tzuflifu, que desvirtua os aspectos positivos do 28º Caminho. As paixões desenfreadas e obsessões por alguém ou algo é uma forma de desequilíbrio emocional que ganha força quando não há presente um fundamento nas Emoções Superiores. Por ser um caminho mais intuitivo podemos nos iludir ao buscarmos seguir as emoções que nos guiam, pois elas podem estar fundamentadas em caminhos vazios e em emoções inferiores e prejudiciais da Qliphot.

Tzaddi significa anzol, e esse significado traz uma reflexão bem interessante a seu respeito. O anzol seria uma Emoção Divina que atrai, fisga, e puxa a pessoa para um Plano Superior.

O signo de Aquário e o XVII Arcano Maior do tarot, A Estrela, são correlacionados ao 28º Caminho. A simbologia de ambos enriquece o entendimento dele. Abordarei alguns pontos que acho interessante sobre eles. Começando por Aquário.

Glifo do signo de Aquário

O glifo desse signo traz uma boa reflexão sobre o trazer à tona algo que está “acima” de nós, como o axioma hermético diz “O que está em cima é como o que está embaixo”, a Individualidade deve ser refletida na Personalidade. Assim como também uma ideia pode ser trazida do Plano Mental para o Plano Físico, ou uma Emoção Superior pode ser refletida em nós e nos transformar. Aquário na astrologia tradicional é regido por Saturno, e na moderna por Urano também. É um signo de Ar e Fixo, humanitário, idealista, inventivo, buscando sempre aprimorar uma ideia, deixando o velho de lado para que novos ares estejam presentes trazendo o melhor para todos.

Na mitologia grega temos o mito de Ganimedes que representa a constelação de Aquário. Existem algumas versões diferentes sobre ele, mas a base da história segue esta:

“Ganimedes era um jovem e belíssimo rapaz pelo qual Zeus apaixonou-se por sua tamanha beleza, e então decide o levar para o Olimpo. Enquanto Ganimedes cuidava dos rebanhos do pai, Zeus toma a forma de uma águia e o rapta. No Olimpo ele assumiu a função de copeiro servindo o néctar dos deuses a eles, e essa era uma bebida que os dava a imortalidade. Ganimedes foi transformado na constelação de Aquário por Zeus.”


O rapto de Ganimedes – Pintura de Antonio Allegri

O signo de Aquário é um aguadeiro. O aguadeiro já foi uma profissão no passado. Era a pessoa que fornecia água potável para o consumo.

“Aquário é o aguadeiro, traz das Águas Superiores da Inspiração Divina que rege os artistas, inventores, escritores e todo tipo de profissão que amplie o conhecimento infinito da humanidade, trazendo-a mais perto do Infinito de Deus.” [²]




O XVII Arcano Maior, A Estrela, é associado à Tzaddi. A ilustração desse arcano na maioria dos tarots trazem uma jovem desnuda em um campo aberto, com uma parte do corpo sobre um rio e outra parte do corpo na terra, segurando dois aguadeiros ela despeja a água de seus recipientes, uma no rio e a outra no chão. No céu temos 8 estrelas, geralmente uma maior ocupando o centro e outras 7 menores ao redor. Atrás dela uma extensão do campo aberto com uma árvore, um pássaro e uma montanha. Os títulos esotéricos desse arcano são “A filha do firmamento” e “Aquela que habita entre as águas”.

Arcano A Estrela no tarot de Waite

       Os simbolismos pertinentes desse arcano em associação com a Kabbalah temos:

  • A jovem desnuda que é o princípio feminino que representa o 28º Caminho, que pode ser associada à Netzach, a propósito a imagem mágica de Nezatch é “Uma bela jovem nua”. É a própria força e inspiração divina. A musa inspiradora.
  • O lago representa as águas de Yesod e o chão o mundo da matéria de Malkuth.
  • A perna da mulher sob a água, representa a conexão de Netzach à Yesod, que é Tzaddi. Com a outra perna sobre o chão, representa a conexão entre Netzach e Malkuth, que é Qof.
  • Ela carrega as Águas Superiores no aguadeiro, que são as Emoções Divinas inspiradoras, que são jogadas sobre o lago (Yesod) e o chão (Malkuth).
  • Um paralelo que acho interessante de se fazer é com o mito de Ganimedes. Ele servia em um aguadeiro o néctar dos deuses que fornecia a imortalidade a eles. A jovem desnuda despeja de seus recipientes água, cuja qual é a fonte da vida para todos nós humanos.
  • A estrela maior pode ser associada também à Vênus, a estrela d’alva. A estrela vespertina ou matutina, como também é chamada, é associada ao anjo Lúcifer, o portador da luz. E a luz que nos dá esperança para uma situação complicada reside em Tzaddi.

O arcano A Estrela tem como essência o significado de esperança e fé. Quando tudo parecer que não há jeito e estiver perdido no meio da escuridão, o surgimento de uma estrela no céu é uma indicação de que mesmo em meio a essa escuridão ainda há luz. Os povos antigos se guiavam pelas estrelas. Imagine um céu todo nublado, sem estrela nenhuma para guiá-los. O surgimento delas no céu era um sinal de esperança que não ficariam perdidos. E assim também é com os momentos mais difíceis de nossas vidas. Tudo o que buscamos é um sinal, uma luz, a estrela que vai nos guiar e nos dar esperanças para sair deles. É o sentimento da fé e de uma força divina que te faz seguir em frente, e mesmo que você não compreenda racionalmente esse sentimento, ele te dá esperanças de que tudo ficará melhor.

Crowley no liber 777 diz que o vidro artificial pertence a Aquário, como sendo obra do homem, o Querubim do Ar. A Calcedônia sugere as nuvens por sua aparência. Se observamos algumas pedras de calcedônia percebemos que não só lembram as nuvens, mas como o céu também, que nos remete ao elemento ar de aquário.


As deusas Juno e Atena podem também ser representantes desse caminho. “Juno, a deusa grega que vela sobre o sexo feminino, e se considerava o Gênio da Feminilidade, é sua principal atribuição. Atena, como a patrona das artes úteis e elegantes (as artes são as características astrológicas dos nativos de Aquário) é uma correspondência” [³].

Estátua da deusa Atena


The peacock complaining to Juno – Pintura de Gustave Moreau

A planta de Tzaddi é a oliveira que, segundo à crença, Atena criou para a humanidade. Temos também uma referência bem interessante ao uso da oliveira no alcorão. “Deus é a Luz dos céus e da terra.(1032) O exemplo da Sua Luz é como o de um nicho(1033) em que há uma candeia; esta está num recipiente; e este é como uma estrela brilhante(1034) , alimentada pelo azeite de uma árvore bendita, a oliveira, que não é oriental nem ocidental(1035) , cujo azeite brilha, ainda que não o toque o fogo. É luz sobre luz! Deus conduz a Sua Luz até quem Lhe apraz.” - Surata 24ª;35  


Talvez a atribuição feita com o sabugueiro seja por ele ser associado à Saturno, que é o Planeta regente de Aquário, e por possuir característica de diurético, uma vez que Tzaddi tem relação com os rins e bexiga, mas além da função diurética o sabugueiro possui outros diversos benefícios à saúde sendo recomendado para tratamentos de resfriados, tosse, dores molares, nevralgia, dores de cabeça, inflamação de ouvido, laringe e garganta e também possui função energética.

O pavão e a águia são os animais atribuídos ao 28º Caminho. A águia pode ser atribuída aqui pelo mito de Ganimedes, no qual Zeus antropomorfizado mela é a representação da força ou emoção divina que captura e eleva a um Plano Superior, algo bem similar a ideia do anzol já falada. No iazidismo, religião sincrética com o iazdanismo ligado ao zoroastrismo e outras religiões antigas da mesopotâmia, é cultuado o anjo-pavão Melek Taus, um anjo da mais alta hierarquia dessa religião, que também funciona como um símbolo de esperança para os praticantes dela. E ainda no liber 777, Crowley explica que o pavão é o animal da deusa Juno.

O anjo pavão Melek Taus

O anjo desse caminho é Malkiel ou Malquiel, ele provê inspiração, criatividade e boas ideias [4]. Como símbolos possui os incensos e incensários. Essa associação é fácil, pois o incenso enquanto fumaça representa o elemento ar, mas seu perfume estimula diretamente nossas emoções, característica de Netzach.

Tanto Tzaddi quanto Qof são influenciados pelas inspirações de Netzach, então ambos os caminhos possuem essa característica, o que pode ocasionar uma pequena dúvida e confusão para diferenciar em como a inspiração age em cada um deles. Em Qof ela é a inspiração que te move, literalmente, é como quando você pratica algum esporte e está chegando a seu limite e visualiza a imagem de alguém que deseja alcançar ou superar, que te faz criar forças do nada para dar seu melhor. Já em Tzaddi ela é a inspiração que guia suas emoções, é o feeling, é a fé, é a esperança, é a certeza de algo e do sentimento não intelectualizado que te faz seguir em frente, é a sua estrela guia.

        “When you wish upon a star ~ Your dreams come true” 

 


 

Referências bibliográficas:

[¹][²] Kabbalah Hermética – Marcelo Del Debbio

[³] Um jardim de romãs - Israel Regardie

[4] Enciclopédia dos anjos - Richard Webster

A energia das ervas. Disponível em http://neuumbanda.org/joomla/index.php/2-a-energia-das-ervas

Iazidis. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Iazidis


Um comentário:

  1. ótimo texto, mas ainda vejo o 28º caminho como sendo representado por Áries, o signo da energia iniciadora primordial.

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