Letra Samekh em hebraico
Título: O
útero grávido
Inteligência:
Inteligência da Provação
Localização: Entre
Tiferet e Yesod
Significado:
Apoio, suporte
Valor Gemátrico: 60
Anjo: Adnachiel
Qliphot: Saksaksalim
Cor: Azul
Incenso: Aloe
Animais:
Cavalo, cachorro
Seres Lendários: Centauros, hipogrifo
Pedras: Sodalita,
Lápis lazúli, Safira azul
Plantas: Junco
Árvores:
Carvalho
Correlação:
Sagitário
Tarot: A
Temperança
Poderes: Transmutação
Símbolos:
Flecha
Rituais: Unir
consciente com inconsciente
O Caminho de Samekh
O 25º caminho é o de Samekh, conhecido também como o Caminho
do Meio. Ele é o mais rápido para ascender na Árvore da Vida até Kether. Liga a
esfera de Yesod até Tiferet, o Fundamento e a Beleza, Lua e Sol. Neste caminho
as Emoções Inferiores unem-se às Emoções Superiores, e com isso tem-se o
equilíbrio entre Essência e Personalidade.
Aqui, Ego e Self, Eu Inferior e Eu Superior, juntam-se num
processo de transformação, uma verdadeira alquimia espiritual, com intuito de
retificação de nossas forças internas e externas. Essa retificação se dá pela reconciliação
dos opostos. É uma integração da soma de todas as partes que você é. Essa ideia
está presente na alquimia pelo Casamento Alquímico, e também na psicologia
junguiana como o Processo de Individuação.
O Processo de
Individuação
Na psicologia junguiana o processo de Individuação está
relacionado com o reconhecimento e enfrentamento de nossa Sombra para que haja
a integração da mesma em nosso ser, e com isso busca-se a totalidade de quem
somos.
Carl G. Jung em sua obra Tipos
Psicológicos diz que “O processo
psicológico da individuação está intimamente vinculado à assim chamada função
transcendente [...]”. É um chamado
do Self ao Ego para trabalhar a Personalidade em busca da Individualidade.
Dentro do contexto cabalístico isso diz que é reconhecer o que está oculto no inconsciente e nas imagens mentais de Yesod, pois é nessa esfera que também estão as nossas Sombras e todos os aspectos inconscientes, astrais e mentais ocultos que fundamentam o ego que somos e que influenciam a nossa Personalidade.
Seguindo pelo caminho de Samekh temos a chance de reconhecer,
aceitar e reintegrar essas nossas partes e assim buscar a nos tornar a
potencialidade única da Individualidade que está presente em Tiferet.
“[...]o processo de individuação nada
tem de individualismo, muito pelo contrário, é um processo que estimula o
indivíduo criar condições para que cada um desperte o melhor de si e do outro,
o tempo todo, fazendo-o sair do isolamento e empreender uma convivência mais
ampla e coletiva, por estar mais próximo, conscientemente da totalidade, mas
ainda mantendo sua individualidade.” ¹
O Casamento
Alquímico
Encontro do Rei Sol
com a Rainha Lua. Splendor Solis, 1585
Representado pela união do Rei/Sol e da Rainha/Lua nas
gravuras medievais, o Casamento Alquímico é a união dos opostos complementares.
Esse casamento simboliza um processo de integração das partes de luz e sombra
do ser humano, no qual a Personalidade ao passar pelos processos alquímicos,
torna-se uma versão mais lapidada de si mesma, ou uma alma purificada,
renascida.
“[...]a transmutada personalidade do
homem e o espírito se tornaram em uma unidade perfeita no vaso microcósmico.
Esta nova criatura, este filho da sabedoria, tornou-se para si mesmo em pedra
filosofal. Ele personifica o puro ouro do espírito e pode estimular a todos os
seres vivos a atingir a perfeição por meio do poder de seu amor e curar todos
os doentes, como o ouro purificado transforma no laboratório todos os metais
comuns (não nobres) em ouro.” ²
De Yesod à Tiferet
Subindo a Árvore da Vida, temos o objetivo de ir até Tiferet a partir de Yesod. Isso significa que a Personalidade, o Eu Inferior, já
deveria ter passado, compreendido e internalizado os processos dados pelos
Caminhos anteriores, como foi explanado no Caminho de Peh, pois acima dele
estão os caminhos que levam ao Eu Superior.
Com isso, espera-se que já tenhamos um bom domínio sobre o
ego arbitrário e das diversas facetas prejudiciais dele, tornando-nos assim uma
versão mais purificada de nossa Personalidade, capaz de receber os influxos que
emanam de Tiferet mais fortemente, e assim estarmos em sintonia com nosso
propósito de vida, ou com a construção da nossa Grande Obra.
Portanto, o caminho de Samekh, por se encontrar no Pilar do
Equilíbrio, carrega consigo essa meta da Personalidade encontrar uma integração
com a Individualidade, que se dá através da arte do equilíbrio, pois uma
mente/pessoa desequilibrada jamais irá conseguir encontrar harmonia na vida
para ascender na Árvore de Vida, ou em outros termos, conseguir sair das crises
repetitivas que nossos processos mentais inconscientes são capazes de nos levar,
e com eles tomar certas decisões no mínimo duvidosas e inconsequentes.
Ascensão e os ciclos
evolutivos
No caminho de Samekh aprendemos com os ciclos repetitivos de
acontecimentos, entendendo-os e saindo deles. Eles fazem parte do nosso
processo de evolução. Aprender com esses ciclos é ser capaz de estar aberto às
mudanças que te tornam alguém mais em sintonia com sua Essência/Self. É
transmutar o metal (símbolo de Yesod/Lua) em ouro (símbolo de Tiferet/Sol).
Tornar-se uma versão melhorada de você, mais consciente, evoluída
espiritualmente. Isso é ascender na Árvore da Vida e alcançar os potenciais do
seu Ser. É a espiral evolutiva da existência.
Para ascender nesta espiral evolutiva é necessário
conhecer-se profundamente, seus defeitos e qualidades, o que há de bom e ruim
em seu ser, até onde você se limita e não se permite crescer, e com isso saber
utilizar suas virtudes para ultrapassar as barreiras que lhe pôs e que evitam
seu amadurecimento e crescimento.
O ouroboros é um excelente símbolo para representar esse
processo de evolução.
“No Budismo, o Ouroboros simboliza o
olhar para si como forma de evoluir espiritualmente, marcado pela ausência de
início e fim. Por sua vez, na alquimia é usado como um norteador das estações
do ano, dos céus, a partir da representação da serpente que devora a própria
cauda, simbolizando, dessa forma, a energia cíclica da vida, a unidade
primordial, a totalidade do mundo.” - Kabbalah Hermética, Marcelo Del Debbio.
Budismo e o Caminho
do Meio
No Budismo, o Caminho do Meio, conhecido também como o Nobre
Caminho Óctuplo, é o que Buda entendeu como um caminho que leva à iluminação e
à eliminação do sofrimento, no qual levam ao equilíbrio e discernimento, que
são aspectos fundamentais da sabedoria.
“Diz-se “óctuplo” porque é formado por oito
elementos ou facetas; “nobre”,
por ser moralmente correto e porque nada nele nos desencaminharia; “caminho” porque deve ser seguido
durante um período, da mesma forma que uma trilha, e porque leva diretamente
à meta da libertação do sofrimento e da ilusão” ³
O Nobre Caminho Óctuplo
A Arte de Temperar
A correspondência no tarot para o 25º Caminho é o Arcano A
Temperança, que fala sobre equilíbrio, moderação, harmonia e reintegração
dos opostos.
A Temperança, Tarot de
Waite
O tarot de Waite traz uma representação cabalística simbólica
perfeita para o caminho de Samekh, uma vez que este caminho está entre as
esferas de Tiferet e Yesod. Nela, o Anjo Solar é o próprio Tiferet, nosso
Sagrado Anjo Guardião, que se equilibra entre dois terrenos opostos e ainda
mistura as águas das taças, mostrando a ideia de reintegração e equilíbrio que
podem levar à harmonia. A trilha atrás do anjo é o caminho que liga Tiferet à
Kether, o Caminho de Gimmel, no qual ao final se encontra a coroa de Kether, a
primeira esfera.
Crowley chama este arcano de A Arte. Seu tarot, o tarot de Thoth, é outro com representação extremamente simbólica. Basicamente está mostrando um trabalho alquímico que visa a união dos opostos através da medida certa de cada parte. É a arte temperar. Para maiores explicações sobre este arcano no tarot de Thoth confira aqui.
A Arte, Tarot de Thoth
Atribuições feitas à
Samekh
“O Vigésimo Quinto Caminho é a
Inteligência da Provação, e é assim chamado porque é a Tentação primária,
através da qual o Criador testa todas as pessoas íntegras”.
Isso significa que todos os caminhos anteriores já deveriam
ter sidos percorridos, interiorizados e utilizados como ferramentas de
transmutação que leva ao Verdadeiro Eu (Tiferet), pois o Sagrado Anjo Guardião
irá testar a Personalidade/Ego através de provações, mas não as confundam com
as provações do caminho de Shin, elas aqui testam o quão em harmonia a
Personalidade está com a Essência.
- O Signo de Sagitário
Sagitário é o signo atribuído ao 25º Caminho. A energia desse
signo está ligada à busca de um sentido maior e mais profundo das coisas que
nos envolvemos, à uma filosofia de vida, e com isso busca expansão de
conhecimento, aumentando assim seu horizonte. E com toda sabedoria adquirida
nesse caminhar, utilizar para seu crescimento.
Durante muito tempo o centauro, um dos seres lendários
atribuídos a Samekh, foi símbolo desse signo. Esse ser mitológico é meio homem
e meio cavalo, e carrega consigo um arco e flecha. Centauros em diversos contos
são grandes professores e detentores de conhecimentos profundos. Quíron é um
dos exemplos mais famosos.
A Educação de Aquiles
pelo Centauro Quíron — Pintura de Jean-Baptiste Regnault (1829)
“Quíron representa a parte do ser
humano que se eleva às questões do espírito para compreender o mestre
espiritual que existe em cada ser humano. Era considerado como um Pontífice que
significa "o construtor de pontes", que são os padres e os pastores
que servem de guia espiritual, estabelecendo uma relação entre Deus e o homem.
[...]
O paradoxo se apresenta na forma do
centauro, metade deus e metade cavalo, na capacidade de compartilhar o instinto
e o espírito, contendo a dualidade própria da condição humana. Nunca o ser
humano será capaz de ser totalmente humano e nunca será totalmente um animal,
tendo que aprender a conviver com as duas partes. Dessa mistura vem a sabedoria
do centauro, que compartilha do conhecimento de Deus e do conhecimento das leis
naturais.” 4
Hoje, o glifo mais usado para Sagitário é uma flecha, símbolo
para Samekh. O simbolismo dela para esse caminho é um pouco complexo, mas não
difícil de entender.
-Símbolo da flecha e o arco de Qesheth
Para tentar tornar um pouco mais fácil o entendimento,
primeiramente, é saber que Samekh tem o significado de “apoio”; “suporte”;
“esteio”, ou seja, são as forças que te apoiam a percorrer o 25º Caminho. E o
que são essas forças?
Diversos autores citam que elas provêm dos Caminhos de Qof,
Shin e Tav. Essas letras juntas formam a palavra Qesheth, que em hebraico significa “arco”, o arco de Qesheth. É o
arco-íris que se estende no caminho de Tav.
Então quando dominadas as forças desses caminhos com o intuito
de transmutar quem somos (a reintegração) utilizando a virtude da temperança
para equilibrar nossos opostos complementares, a flecha de Samekh apoiada no
arco de Qesheth é então disparada em direção à Tiferet.
“Toda experiência é uma preparação da
Personalidade e do corpo no qual ela está operando, a fim de poderem lidar com
um influxo de Luz que seria insuportável para um sistema despreparado para
lidar com essa energia. O mais importante aqui é o monitoramento do progresso,
a contínua verificação a partir de cima. Aqui, o Anjo que despeja o elixir de
um vaso para o outro, é ao mesmo tempo o Eu Superior e as forças iniciatórias
da Natureza. Este é um processo permanente de verificação e de medição para se
saber o quanto o veículo físico pode suportar. Quando ele se torna capaz de
lidar com o intercâmbio de energia aqui simbolizado, a flecha é liberada.” 5
Esta explicação abaixo de Robert Wang agrega ainda mais o
entendimento:
“O processo consiste em conduzir o
Espírito até o corpo, de modo que ele modere a consciência e seja moderado por
ela, formando assim uma coisa nova, algo que “é mais do que a soma de suas
partes”. Esta é a aplicação pessoal, no indivíduo, da união entre Yod (o Fogo)
e Heh (a Água) para produzir Vau (o Ar) dentro do corpo, que é o Heh final e a
Terra.
O processo envolve uma manipulação
interior das energias sexuais. Na
verdade, o simbolismo da flecha atirada para cima representa o orgasmo
espiritual. Embora essa interpretação possa parecer extremada, ela é na verdade
bem aceita na iconografia cristã. O êxtase de Teresa, a santa e mística do
século XVI, é descrito em termos de um anjo atirando uma flecha flamejante em
seu coração. Este simbolismo da flechada que produz êxtase e iluminação parece
ser uma descrição universalmente aplicável (na verdade arquetípica) de um
processo real.”
Outras associações
Como é sabido, os Caminhos da Árvore da Vida são interseções
entre as esferas, com isso, Samekh carrega de Yesod um conceito parecido com o
de “matéria em gestação” dessa esfera, tendo em seu título o “útero grávido”, pois é nele que estão
as energias presentes num constante movimento, um fluxo e refluxo, até
encontrar a harmonia perfeita para serem liberadas. É o simbolismo da flecha de
Samekh mais uma vez.
Uma das deusas atribuídas a esse caminho no Liber 777 de
Crowley é Ártemis, deusa da castidade e da caça e que andava sempre com seu
arco e flecha. É interessante uma breve colocação de Marie-Louise von Franz no
livro O homem e seus símbolos
para trazer uma luz a essa atribuição fundamentada em tudo o que foi dito até
agora, e ainda reafirmar o título do 25º Caminho como Inteligência da Provação.
“Poderia se dizer que o
encontro inicial com o self lança uma sombra sobre o futuro, ou que esse
“amigo interior” aparece primeiro como um caçador que prepara sua armadilha
para pegar o ego indefeso”
Artémis, deusa da
caça, conhecida como Diana de Versailles. Século II d.C. cópia do original
grego do século IV a.C. Mármore, 2 metros. Acervo: Musée du Louvre, Paris,
França. Asa Sully, Sala 348.
O Liber 777 diz que o cão é sagrado à Ártemis, por conta de
seus cães de caça. O Cavalo também carrega a ideia de caça e também de velocidade.
O Hipogrifo é um ser lendário que é uma mistura de cavalo com um grifo.
Os juncos são atribuídos à Samekh porque com eles se fazem
flechas.
As pedras associadas são sodalita, lápis lazúli e safira azul. São escolhas pessoais minha (Zayin) baseadas na correspondência de cor do Caminho (azul) e de seus significados, que segundo algumas pesquisas, associam-nas ao equilíbrio, conexão e elevação espiritual, e também ao signo de Sagitário (sodalita).
O anjo deste caminho é Adnachiel, possivelmente citado como
tal porque ele é associado ao signo de Sagitário.
Na
Árvore da Morte, a energia contrária a Samekh é a de Saksaksalim. Se por um
lado Samekh visa a ascensão, evolução e equilíbrio, Saksaksalim visa manter as
coisas do jeito que estão, trazendo desequilíbrio ou mesmo o fanatismo.
“Sua influência gera a incompreensão
da importância e da realidade das forças opostos e complementares em todos os
aspectos e níveis de manifestação, causa desequilíbrios e degeneração sexual
com repugnância e aversão pelo sexo oposto, porem com apetites sexuais
intensos, reprimidos e animalescos. Há um impulso para causar discórdias, ira,
dispersão e descontrole em todos os aspectos. Esses são também alguns dos
sintomas apresentados pelos místicos mitômanos, desequilibrados, destemperados
e histéricos que existem pelo mundo.” –
Cabala Draconiana, Adriano Camargo.
O caminho de Samekh é sobre evolução da alma e expressão da
beleza. Portanto ele é o caminho que te guia a ser melhor e em harmonia com sua
Verdadeira Essência Divina. E com isso encontrar a reintegração de todas suas
partes para que você seja uma expressão do Divino aqui nessa existência.
Referências Bibliográficas:
Processo de Individuação [¹] https://psicoterapiajunguiana.com/conceitos/processo-de-individuacao/
Alquimia como Caminho Interior [²] https://www.jungnapratica.com.br/alquimia-como-caminho-interior/
Nobre Caminho Óctuplo [³] https://www.templozulai.org.br/nobre-caminho-octuplo
Quíron [4] http://eventosmitologiagrega.blogspot.com/2010/07/quiron.html
Path Of Samekh http://www.thealchemyofholism.com/wpcontent/uploads/2014/03/PATH-OF-SAMEKH.pdf
Tarot cabalístico – Robert Wang [5]
Cabala Draconiana – Adriano Camargo
Kabbalah Hermética – Marcelo Del Debbio
O Homem e seus símbolos – M.L von Franz
Tipos Psicológicos, Vol. 6 – Carl G. Jung
Imagem do Caminho de Samekh autoria de Hod Studio
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