Entre razões e emoções - Peh, o 27º Caminho - Kabbalah Hermética

Texto revisado em 10/01/2023


Letra Peh em hebraico


Título: A criança conquistadora

Inteligência: Inteligência Ativa ou Excitante

Localização: Entre Netzach e Hod

Significado: Boca

Valor Gemátrico: 80 ou 800

Anjo: Malkiel

Qliphot: Parfaxitas

Cor: Vermelho

Incenso: Pimenta, tabaco

Animais: Urso, cavalo, lobo, javali

Pedras: Rubi e pedras vermelhas

Plantas: Absinto, arruda

Árvores: Carvalho

Correlação: Marte

Correspondência no corpo humano: Sistema muscular

Tarot: A Torre

Símbolos: Espada

Rituais: Inspiração, destruição do ego

 

Entre as esferas de Netzach Hod está localizado o 27º Caminho: Peh. Aqui temos a razão e emoção, a mente racional e a mente intuitiva, o intelecto e as emoções superiores trabalhando juntos criando uma verdadeira harmonia para construção daquilo que é verdadeiro e real, sem pender muito para o lado emocional ou para o lado lógico, encontra-se aqui o ponto de equilíbrio dessas duas forças.

O caminho de Peh


A divagação da mente e os descontroles emocionais aqui em Peh são dominados, dando-nos condições de poder ver e viver a realidade das coisas como realmente são, sem falsidades, pois às vezes a realidade a qual vivemos e acreditamos é obscurecida por nossos próprios pensamentos, concepções e visões errôneas. Uma falsa e frágil estrutura que erguemos para sustentar a forma que lidamos com a vida, que quando posto à prova pelas forças de Hod e Netzach , concentradas no caminho de Peh, não se mantêm, pois sobra somente aquilo que é real para a vida que deseja seguir.

        “O equilíbrio entre a mente superior intuitiva e o intelecto, que resulta na propagação da palavra divina (Logos), pode revelar a verdade, ou parte da verdade, despida de artificialidades e limitações equivocadas do ego. A revelação da verdade “destrói” a própria personalidade ilusória do indivíduo e toda confusão que oprimia sua mente” - A Cabala Draconiana

Até aqui, pela subida da Árvore da Vida, os caminhos abordavam a Personalidade, o Eu Inferior. Acima do 27º caminho estão os da Individualidade, do Eu Superior. Isso significa que, aqui em Peh, a nossa personalidade e ego são submetidos à transmutação para se chegar ou ter contato com a nossa Individualidade, ou seja, o que é falso, o que não agrega, o que é ilusão, irá ruir para um bem maior e assim poder ascender na Árvore da Vida.

A esfera de Tiferet, o Eu Superior, está logo acima desse caminho, e assim o contato com essa força, com esse seu Eu, só é possível retirando tudo aquilo que não pertence a ele, pois a nossa atual Personalidade, o Ser encarnado que somos, precisa ter uma base forte para receber as forças que emanam de Tiferet.

 

 

O arcano A Torre é associado ao 27º caminho justamente por isso, por mostrar que o que é falso e o que não condiz com o objetivo do seu Eu Superior e da Força Divina não irão se manter. Neste arcano, cujo também é chamado de “A casa de Deus”, tem-se um raio atingindo uma torre, destruindo parte dela e fazendo com que duas pessoas despenquem do alto.


O caminho descendente da Árvore da Vida segue o caminho do raio ou relâmpago, e é a representação desse raio que se faz presente no arcano A Torre, uma força Divina que vem de cima para se manifestar aqui no Plano Físico, em sua morada. E essa força não irá se manifestar naquilo que ela não é, não irá se manter em falsas estruturas, e por isso ela precisa destruir para reconstruir algo forte e verdadeiro.

A coroa no alto da torre também sendo atingida e caindo é a falsa coroa de Kether, a primeira esfera da Árvore da Vida, simbolizando a nossa falsa espiritualidade, os nossos achismos e “certezas” que consideramos inabaláveis, algo que achamos que é absoluto e demos a palavra final de que é isso. O raio divino te descoroa até do que você considerava a mais pura verdade e realidade das coisas, da sua concepção e ideia falsa do seu Eu Superior. As pessoas caindo representam a nossa dualidade, personalidade e os “falsos eus” que mantemos dentro da estrutura de nosso Ser.

O arcano A Torre pode ser visto de dois pontos de vista em relação à sua força simbólica. Você pode vê-lo como um aspecto de demolição ou então de destruição. A demolição pode ser considerada de certo ponto até voluntária, pois se você quer construir algo novo talvez a estrutura antiga não sirva para isso, e assim é necessário a demolição do antigo para dar espaço ao novo. O objetivo de subir a Árvore da Vida para chegar em Peh é justamente este, estamos buscando demolir falsos eus e estruturas que não nos servem mais, ou que isso seja necessário ser feito para a manifestação de uma força superior, do divino em nós.       

O aspecto simbólico da destruição nesse arcano é se ver destruído pelo ocorrido, se apegar aos escombros de sua torre de ego caídos pelo chão e ficar sem saber o que fazer ou como continuar sem o velho, pois é doloroso o apego a algo que não irá mais existir. E assim, ao invés de estar aberto à uma reestruturação, reconstrução, apenas sofre pelos acontecimentos do ocorrido.

O planeta Marte é associado a esse caminho. A força da energia marciana é a força ativa e dinâmica que faz as coisas ocorrerem. O Sefer Yetzirah confirma isso dizendo:

“O 27º Caminho é o da INTELIGÊNCIA ATIVA OU EXCITANTE, e é chamado deste modo porque por ele todo ser existente recebe o seu espírito e movimento.”

Crowley no liber 777 e Israel Regardie em seu livro Um jardim de romãs, correlacionam alguns deuses ligados à esfera de Geburah, que também é uma esfera com energia marciana, ao 27º caminho. Dentre esses deuses, eles citam alguns como Marte, Ares e Hórus. Essa associação feita por eles obviamente se é possível deduzir que os aspectos de batalhas e confrontos que esses deuses carregam podem ser incorporados ao caminho de Peh. Com isso, a busca pela destruição do ego se dará pela harmonia do intelecto superior (Hod) e da emoção superior (Netzach), revelando a verdade necessária para isso ocorrer.

Até mesmo um embate entre a razão e a emoção, trabalhando com o caminho de Peh, trará um resultado que é a formação de uma verdade superior centrada, ou seja, há uma luta entre as duas para formar uma unidade, que não pende nem para uma nem para outra, que se forma direto das forças do intelecto e emoções superiores. Portanto criar suas verdades e a maneira de encarar a vida fundamentadas unicamente na razão ou somente na emoção te deixará sempre sujeito a encarar batalhas que as desafiarão, pois é necessário harmonizá-las, e assim a força marciana mexerá com a estrutura de suas verdades, que nem sempre realmente são, ou então não são mais verdades que agregam algo para a vida que quer ter.

Apesar de Ares ser associado à esfera de Geburah como foi dito anteriormente, seu mito traz uma ótima reflexão a respeito de um fractal de entendimento do caminho de Peh.

 

Ares, o deus da guerra, teve um caso com a deusa Afrodite, e dessa união nasceu sua filha, Harmonia, e ela possui as características cujo seu nome sugere, e que veio para estabelecer uma ligação equilibrada ideal entre a deusa do amor e o deus da guerra.

“Ele sobrevive a todas as humilhações e derrotas, saindo cada vez mais forte. Sua filha simboliza a serenidade encontrada ao fim de um conflito que foi conduzido com criatividade e firmeza. A luta que Ares simboliza é uma expêriencia necessária.”  - O Tarot mitológico

 

A letra Peh significa boca, e por paralelo o ato de entrar ou sair algo dela e a comunicação. Essa letra é formada por outras duas letras hebraicas: Kaph e Yod.

 

Letra Kaph



Letra Yod



          
                        Kaph significa a palma da mão e também possui o sentido de receptáculo ou recipiente. Yod significa mão e traz o significado da Luz, da fagulha divina, o fogo sagrado. Se observar bem, a letra Peh lembra uma boca aberta com um Yod dentro simbolizando a língua, e isso traz uma reflexão interessante quando unimos os sentidos das letras Kaph e Yod. 

 

Kaph com sua ideia de receptáculo serve como um recipiente que recebe o fogo divino de Yod, ou seja, assim como a figura da torre no Arcano A Torre representa a morada de Deus por meio de nossa Personalidade, que é a ideia que Kaph aqui traz. O raio que a atinge (fogo divino) é o Yod, o divino se manifestando em sua morada, tanto que no tarot de Waite, por exemplo, existem chuvas no formato de pequenos Yod’s em fogo no fundo.

 



Com Yod simbolizando a língua na estrutura da letra Peh e carregando o sentido do fogo divino dentro da morada de Deus, pois somos o templo de Deus, encontramos uma passagem na bíblia, no dia de Pentecostes, da descida do Espírito Santo sobre os apóstolos de Jesus Cristo, sua mãe Maria e outros seguidores, que traz a ideia de língua e fogo unidas.


Dia de Pentecoste, Jean II Restout, (1692-1768)  

“E ao completar-se o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos num só lugar. De repente, veio do céu um barulho, semelhante a um vento soprando muito forte, e esse som tomou conta de toda a Casa onde estavam assentados. Então, todos viram distribuídas entre eles línguas de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. E todas as pessoas ali reunidas ficaram cheias do Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas, de acordo com o poder que o próprio Espírito lhes concedia que falassem.” -  Atos 2

 

Voltando ao simbolismo da boca que a letra Peh carrega, ela representa tanto o que sai dela, o poder do Verbo, a palavra que cria, assim como também o que entra nela, ou seja, o que tentamos trazer para nosso interior. Ao caminhar pelos caminhos da Árvore da Vida se é possível entender vários fractais disso, por exemplo, a letra Peh se escreve com as letras hebraicas Peh e Heh (פ e ה). Heh significa janela e simboliza a entrada para nosso interior, e aqui faz alusão à garganta, sendo ela essa janela que permite que algo entre em nosso interior. Então aquilo que queremos manter ou trazer para nossa vida, se for verdadeiro e estar de acordo com nossa Verdadeira Vontade e Essência, passa por Peh e só entra nela se nesse processo simbolizado por esse caminho encontrar a harmonia para manter-se na morada de Deus.

A união do caminho de Shin e de Peh também trazem uma boa reflexão, relembrando que Shin significa dente e é um caminho que testa a aptidão, a boca e o dente (Peh e Shin) trabalham unidos, o dente tritura, mastiga, torna digerível os alimentos, e é na boca que esse processo de transformação ocorre.


Shin além de significar a palavra dente carrega em si o sentido de fogo purificador e corresponde também ao arcano O Julgamento. Existem muitas obras e contos antigos que contam e ilustram o que acontece com a pessoa quando ela morre. Em um deles, muito visto no cristianismo, o espírito passa pelo purgatório e pelo julgamento para saber se é digno ou não de ir para o céu.

A entrada para o purgatório em algumas ilustrações é representada por uma boca cheia de dentes. Se descermos na Árvore da Vida a partir do 24º caminho, o de Nun, que representa a morte no sentido simbólico, a pessoa morre e entra no chamado a boca do inferno, o caminho de Peh, e passa pelo purgatório e o julgamento pós morte, o caminho de Shin , para saber se poderá renascer numa nova vida em Malkuth.

No tarot de Toth, temos a figura de uma boca com dentes.

 

    Essa ideia por trás de a boca ser um local no qual ocorre o processo de transformação do que é posto nela já foi retratada em algumas obras. Na cultura pop temos um exemplo no filme Matrix, no qual Morpheus oferece duas pílulas ao Neo, uma azul e outra vermelha. A pílula vermelha, cor correspondente ao caminho de Peh, é a que liberta das ilusões da Matrix e apresenta a realidade como ela é, o levando a verdade. E é justamente pela boca, ao ingeri-la, que esse processo começa.



Na alquimia, ao invés de uma boca temos a ideia do forno alquímico, chamado de Athanor, que era tanto um forno para trabalhos reais quanto filosóficos, no qual era usado para processos alquímicos para se chegar à pedra filosofal. E é interessante reparar no formato do Athanor:


Era construído no formato de uma torre, e dentro dela possuía um recipiente no qual ali seriam postos ali as substâncias que formariam a pedra filosofal. E temos aqui analogamente a ideia por trás da aparência da letra Peh, em que Peh é simbolizado pelo forno (no formato de uma pequena torre), Kaph o recipiente dentro do forno e o Yod o fogo que dá início ao processo de transmutação.

Tratando agora das correspondências com o 27º caminho, com os animais temos o cavalo que é um animal sagrado a Marte, o termo cavalo de guerra deixa isso bem claro; o javali que foi o animal que Ares usou para matar Adônis por ciúmes de Afrodite; o urso, segundo o liber 777 diz que ele é marcial, principalmente por razões alquímicas e por causa de sua grande força; o lobo é por causa do mito romano de Rômulo e Remo, dois irmãos gêmeos filhos do deus Marte. Eles quando ainda bebês foram jogados no rio Tibre, mas por sorte o cesto no qual estavam acabam parando nas margens do rio, onde são encontrados por uma loba que os amamenta.

O rubi e as demais pedras vermelhas se encaixam em Peh justamente por conta de sua cor. A pimenta, o tabaco, o carvalho e a espada são claramente associações da esfera de Geburah, que é a fonte da energia marciana, presente em Peh. As associações com o absinto e arruda estão presentes nos livros clássicos como Liber 777, Um Jardim de Romãs e A Árvore da Vida, mas não existe nenhuma explicação clara sobre o motivo disso.

             Todas as esferas e caminhos da Árvore da Vida se desdobram em vários fractais, e isso é uma das coisas que torna a kabbalah tão magnífica. E todas essas maneiras de entender as diversas nuances dela ajudam no processo de auto lapidação do nosso eu. No caminho de Peh é possível aprender que essa auto lapidação também é feita com a ajuda de nosso Eu Superior e pelo divino, uma vez que os aspectos de nossa personalidade e de nossas vidas são trabalhados aqui de modo que estejamos sintonizados com nossa essência e Grande Obra.

No 27º caminho retira-se as falsidades, derruba-se falsos valores, falsas estruturas, a torre de ego que erguemos. Aqui o religar-se ao divino é retirar da vida tudo aquilo o que ele não é. E tudo isso para que a Personalidade seja o canal de expressão e comunicação com o divino em nós, através do verdadeiro equilíbrio de nosso intelecto e intuições superiores, de nossa razão e emoção.      

                                                                                                                                        

Referências Bibliográficas:

A Árvore da Vida – Israel Regardie

A Cabala Draconiana – Adriano Camargo

Bíblia King James – Atos 2:2

Kabbalah Hermética – Marcelo Del Debbio

Liber 777 – Aleister Crowley
      
Tarot Mitológico – Juliet Sharman-Burke e Liz Greene

Um Jardim de Romãs – Israel Regardie

Harmonia (mitologia). Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Harmonia_(mitologia)

Rômulo e Remo. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/R%C3%B4mulo_e_Remo

The seventeeth path of the tree of life: PehDisponível em https://occultrevival.net/the-seventeenth-path-of-the-tree-of-life-peh/

Imagens dos caminhos e Árvore da Vida utilizadas aqui são de autoria da Hod Studio

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