Chegado no equinócio de outono temos o
Sabbat de Mabon, conhecido também como o Sabbat da segunda colheita. Aqui no
hemisfério sul ele ocorre entre 20 e 21 de março, enquanto que no hemisfério
norte entre 20 e 21 de setembro. E assim como no equinócio de primavera, em que
se realiza o Sabbat de Ostara, nesta
data ocorre um evento que só acontece duas vezes ao ano no dia dos equinócios:
o dia e a noite possuem a mesma duração, ou seja, estão equilibrados, e o
equilíbrio é uma das principais características a serem abordadas e trabalhadas
em Mabon.
Depois dessa data as noites se tornam
mais longas e os dias mais curtos, e a parte escura da Roda do Ano fica
mais presente e evidente na natureza. Portanto, em Mabon temos o equilíbrio da
Luz e Sombra, que simbolicamente também estão presentes em nosso ser, pois
todos temos nosso lado de luz e de sombra. E é neste período em que podemos
refletir sobre o equilíbrio desses aspectos duais em nossas vidas.
Mabon é conhecido tradicionalmente como
o festival da segunda colheita. Para os povos antigos isso significava que a
fértil terra em breve pararia de dar as suas bênçãos, e a colheita cessaria,
pois não haveria mais frutos a serem colhidos.
Durante o outono, o verde dos campos
vai sumindo aos poucos, as folhas das árvores tomam um tom marrom e caem, o
calor do sol já não é mais o mesmo e gradativamente o frio vai aumentando. A
terra já não irá dar mais tantos frutos quanto antes durante o período do
outono, mas no começo dele a abundância se faz presente, pois tudo o que se
plantou está retornando fortemente. Esse era um período de prosperidade, no
qual também se era dado graças a tudo o que foi e estava sendo dado pela mãe
natureza.
Cornucópia símbolo da prosperidade
A Roda do Ano nos mostra o ciclo da
natureza, e existem diversos mitos que nos contam sobre ele, e aqui, junto aos
outros Sabbats, venho feito uma narrativa sobre a deusa (a terra/mãe natureza)
e o deus sol, como forma de tornar mais claro esse processo. Com isso, até
agora, o deus sol já nasceu, cresceu, passou pela juventude e pela fase adulta,
e agora em Mabon, encontra-se velho. Ele, que já estava em declínio após Litha, foi perdendo
forças e caminha aos poucos para sua morte em Samhain, e a deusa agora ganha o
aspecto de anciã, resguardando para si toda a energia em seu útero (a terra),
para dar a vida novamente na primavera.
Este é um momento que as folhas caem e
devolvem sua vida à terra, e ela vai guardando, assim como também guarda a
energia doada pelo sol para que então, futuramente, fertilize os campos e dê
vida às sementes após o inverno, recomeçando todo o ciclo da Roda do Ano.
Mitos
do outono
O rapto de Perséfone
O
rapto de Perséfone – Pintura de Christoph Schwartz
Enquanto Perséfone colhia flores, uma
fenda se abre no solo próximo a ela. Surge então o deus Hades, que fica
apaixonado por tamanha beleza da deusa. Ele então a rapta levando-a para o
submundo. Sua mãe, Deméter, deusa da colheita e fertilidade, preocupada pela
demora de sua filha em voltar ao Monte Olimpo, entra num estado de tristeza
profunda, e angustiada vaga pela terra à procura de Perséfone.
Ela descobre que sua filha havia sido
raptada por Hades. Inconsolada por esse fato ela passa a vagar pela terra e não
retorna ao Monte. Zeus, pede à Deméter para voltar e retornar a seus afazeres
como deusa, pois a fertilidade da terra estava comprometida pelo seu abandono.
A deusa nega-se a voltar e disse que não deixaria brotar uma única semente
sequer crescer enquanto não tivesse de volta sua filha. Zeus então pede a
Hermes para ir ao submundo ao encontro de seu irmão Hades e pedir que ele
devolvesse Perséfone.
Hades permite que ela volte, porém,
antes, fez com que a deusa ingerisse sementes de romã, símbolo de aliança, e
assim a deusa estava ligada ao submundo para todo sempre, tendo que passar um
terço do ano nele junto ao deus e o restante do ano com sua mãe.
Então durante o período da primavera,
verão e início de outono, Perséfone permanecia com sua mãe, e ela feliz com
isso fazia toda a terra florescer e prosperar, porém quando sua filha partia
novamente para o submundo, Deméter se entristecia, e com isso os campos
deixavam de dar vida e a terra se tornava infértil durante esse período, que
era de uma parte do outono até durante todo o inverno.
Mito do deus Mabon
“O Deus Mabon era um menino valente, muito belo e
corajoso. Desde muito cedo aprendeu a amar e conviver com todos os elementos da
natureza, em especial com as árvores e riachos. Estava sempre fugindo para a
floresta para brincar com os animais e com as árvores e plantas.
Mabon sempre fora um garoto livre e gostava muito de correr pelos campos e
florestas. Era um Deus jovem e irradiava uma luz muito bonita.
Certa vez, no dia do Equinócio de Outono, Mabon desapareceu enquanto brincava
nos campos de trigo. Sua mãe, Modron, guardiã do além, protetora e curandeira,
a própria Terra, chorou com grande tristeza.
E as árvores perderam as folhas, e depois os dias tornaram-se escuros e frios.
E tudo foi tristeza. Com medo de que essa época tão escura nunca terminasse,
Mabon foi procurado pelos quatro cantos, por todos os guerreiros da Terra. E
com a ajuda dos animais vivos mais antigos, dentre eles o corvo, a coruja, a
águia e o salmão, Mabon foi encontrado, já livre de onde estivera todo o tempo.
O que ninguém sabia é que Mabon havia estado no além mágico de Modron, o útero
da Terra, um lugar de encantamento e desafios, onde o jovem garoto pudera se
tornar um guerreiro de verdade, e depois renascer como o filho da luz.
A luz de Mabon havia sido tragada pela Terra apenas para ganhar força e
tornar-se uma nova semente...” [¹]
Principais
aspectos trabalhados em Mabon
O Equilíbrio
É nessa data que se encontra um
excelente momento para se trabalhar o reequilíbrio de nós mesmos. Esta é uma
janela que se abre para excelentes meditações, reflexões ou atividades que
religuem você a seu eu interior, para então olhar os pontos de desequilíbrio
que possuímos, ouvi-los e tentarmos consertá-los.
Luz e sombra são partes de nós e sempre
serão, pois fazem parte da dualidade da existência da vida, portanto, se sua
sombra está lhe afetando de algum modo, aqui é o momento para trazer luz a ela
e assim reequilibrar o seu eu, pois a conexão com esses dois lados está muito
mais forte nesse dia.
Tenha em mente que os Sabbats são
portais para sintonizar com a natureza, portanto este é um dia perfeito para
buscar esse equilíbrio no seu mental ou emocional que tanto pode estar
procurando.
Dar graças
Mabon também é prosperidade, é a época
da segunda colheita e a fartura reina. Com isso, também é época de gratidão, de
ser grato por tudo o que a vida lhe deu. Tudo o que se ganhou ao longo do
último ano até agora, do trabalho duro que teve para alcançar seus objetivos,
do que foi plantado em Ostara e foi colhido até hoje, de tudo o que ganhou e o
que foi deixado de lado para que a vida que vive hoje esteja acontecendo. Esse
é o momento de dar graças pelas bênçãos recebidas.
A título de curiosidade, no hemisfério
norte, Mabon é comemorado no fim de setembro, e era nessa época que os povos
antigos, ou usando até mesmo um exemplo mais recente como os fazendeiros,
sabiam como havia sido suas colheitas e se seus animais estavam bem alimentados
e fortes, pois isso determinava se suas famílias iriam sobreviver ao inverno,
portanto era costume agradecer o que se foi colhido e conquistado. O dia de
ação de graças americano, por exemplo, era originalmente comemorado no dia 3 de
outubro, bem no início da estação de outono.
Elementos
do Sabbat de Mabon
Ervas e plantas:
-Alecrim
-Sálvia
-Açafrão
-Noz
-Rosa
-Madressilva
Incensos
-Benjoim
-Mirra
-Sálvia
-Maçã
-Cravo
Velas
-Marrom
-Verde
-Amarela
-Laranja
-Vermelho
Pedras
-Cornalina
-Topázio amarelo
-Ágata amarela
-Citrino
-Âmbar
Comidas
-Raízes e legumes (tudo o que vem da terra)
- Comidas derivadas do trigo e milho
-Maçãs
-Romãs
-Acerola
-Amora
-Uvas
-Nozes
-Castanhas
Bebidas
-Vinhos
-Sidra
-Sucos naturais ou licores com frutas da estação
Como já disse em textos anteriores
referentes aos Sabbats, aqui no momento não ensino nenhum ritual para
celebração deles, pois existem diversas vertentes que os celebram e cada um com
suas particularidades. Apenas proponho a quem queira celebrá-los que pesquise
sobre os diversos rituais de celebração que existem e busquem os que te fazem
sentir bem ou que sinta afinidade.
Mabon
sob perspectiva hermética
Os Sabbats compõem a Roda do Ano e nos
mostram que assim como a natureza, nossas vidas também possuem ciclos, e por
meio deles podemos nos sintonizar com ela e assim aprender os ensinamentos
dessas passagens.
Em Mabon podemos olhar ao nosso redor e
ver tudo o que temos hoje e agradecer por isso, e também tentar entender o
valor das coisas que possuímos em nossas vidas, sejam elas materiais, sejam os
relacionamentos ou o seu caminho espiritual. Cada coisa presente em sua jornada
precisa ter um significado, precisa ter uma importância, caso contrário é
apenas um peso morto.
A magia do Sabbat de Mabon é perceber
todas as suas conquistas e se alegrar com isso. É também aproveitar os frutos
de seus esforços para que conseguisse o que tanto desejava. Olhar para dentro
de si e entender que quem você é hoje é um trabalho dos aspectos de luz e
sombra presentes no seu ser, e aproveitar o dia em que ambos estão em
equilíbrio para assim lançar a luz sobre sua sombra para compreendê-la melhor,
e assim trazer equilíbrio e harmonia para que tudo se torne melhor em sua vida.
Referências bibliográficas:
Wicca A Feitiçaria Moderna, o livro das ervas,
magias e sonhos – Gerina Dunwich
[¹]Uma bela
história de Mabon. Disponível em https://www.ippb.org.br/textos/revista-online/senhora-telucama/uma-bela-historia-de-mabon
A representação do mito de Perséfone mencionado na
Teogonia Hesiódica e descrito no hino Homérico a Deméter na Ática Arcaica.
Lion Granier Alves e Sergio Rodrigues de Souza. Disponível em https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/religare/article/download/45080/29327/
All about mabon the autumn equinox. Disponível
em https://www.learnreligions.com/all-about-mabon-the-autumn-equinox-2562286
The origins and practices of mabon. Disponível
em https://www.bpl.org/blogs/post/the-origins-and-practices-of-mabon/
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