O Sabbat de Samhain

Texto revisado em 14/01/2023


O Sabbat de Samhain (pronuncia-se Sou En), é uma festividade pagã que tem origem com o povo celta e de seu antigo festival dos mortos. Para eles, Samhain marcava o início do ano novo e também o fim do verão, mas para compreender isso é preciso saber que para esse povo a noção de estações do ano como temos hoje não existia, o que eles compreendiam é que na natureza só existia o verão e inverno, portanto era na época desse Sabbat que ficava mais evidente o fim do verão, pois as noites eram mais longas em contraste com o dia, que ficava mais curto, os ventos frios se faziam mais presentes e quase não se via mais os verdes dos campos, mas sim o amarronzado das folhas por cair na terra.  



Samhain é comemorado tradicionalmente no hemisfério sul no dia 1º de maio e no hemisfério norte no dia 31 de outubro, lembrando, é claro, que não é fixo a data de comemoração dos Sabbats, eles podem ocorrer e serem comemorados próximo a essas datas segundo diferentes tradições. A data de 31 de outubro é bem famosa, pois é nesse dia que se comemora o Halloween, que tem origem a partir da festividade de Samhain, mas para chegar nesse ponto ainda há muita história. Continue lendo que chegaremos lá.   

  

 

O Sabbat de Samhain 

 

Samhain marca a morte do deus sol, que irá renascer em Yule. Aqui estamos no ápice do outono, cada vez mais o frio vai aumentando e o inverno se aproximando. Adentramos na parte escura da Roda do Ano, e com isso é chegado a fase de introspecção, de se voltar para dentro de nós, de nossas sombras e medos, tentar entendê-los, adquirir sabedoria deles e de nosso passado, assim como também de nossos antepassados. 

 

Existem alguns pontos importantes que estão presentes historicamente nesse Sabbat. Alguns deles, especificamente para os druidas, sacerdotes celtas, como já foi dito anteriormente, Samhain era o festival dos mortos, no qual se honravam os antepassados (grave isso), e também era a data que marcava o ano novo celta.  

 

É em Samhain que ocorre a terceira e última colheita do que foi plantado durante a Roda do Ano, ou seja, esse é o Sabbat da terceira colheita, pois a partir de então, com a chegada do inverno, a natureza morreria, nada poderia ser plantado ou colhido até o renascimento dela.  

 

É importante lembrar o contexto do qual se origina esta festividade. Geograficamente ela parte dos celtas que viviam no hemisfério norte, sendo a Escócia e Irlanda os principais pontos, e o inverno lá era simplesmente gelo, portanto época de ficar em casa e sobreviver com as graças que lhe foram dadas pelos deuses. Portanto, era uma data que marcava uma última festividade, socialmente dizendo, e com isso as pessoas se reuniam para ela, realizando sacrifícios de animais, frutas e vegetais.

 

 Durante esse período os animais mais fracos precisavam ser sacrificados, pois eles poderiam não sobreviver ao inverno e se tornar um gasto da safra colhida para a sobrevivência dos demais animais mais fortes, portanto para não haver riscos de escassez de alimentos para a sobrevivência dos mais fortes e consequentemente a morte deles, os mais fracos eram sacrificados e suas carnes guardadas para o consumo no inverno. 

 

 

O dia em que os mortos caminham entre nós 

 

Uma coisa bem característica de Samhain é o festival dos mortos de origem celta. Eles acreditavam que nessa época, mais do que em qualquer outra época do ano, o véu que separa o mundo dos vivos e dos mortos ficava mais fino, e com isso a presença deles era mais forte de ser sentida, e que eles também andavam entre nós.  

 

Costumava-se acender fogueiras em homenagem aos mortos, para ajudá-los a encontrar seu caminho no mundo das almas e também para espantar os maus espíritos, pois havia a crença de que algum deles fariam algo de ruim, e para se proteger deles eram esculpidas caras horrendas em abóboras iluminadas, que eram carregadas como lanterna para afastá-los. Com o tempo, foi se criando um folclore de que em Samhain tudo que é tipo de seres da escuridão, que causavam medo e pavor, estavam à solta (grave isso também). 



Como já foi dito anteriormente, a data de 31 de outubro é tradicionalmente marcada como o Sabbat de Samhain no hemisfério Norte, mas também, dependendo das tradições que se segue, pode ser comemorado durante os dias próximos a esse, até porque o nosso calendário gregoriano não bate exatamente certinho com as mudanças astrológicas ou cíclicas da natureza, por isso que as mudanças de estações não são fixas num mesmo dia, sempre variam de alguns dias de diferença de um ano para outro. Prosseguindo. Próximo à data de 31 de outubro, temos o conhecido dia de finados no dia 2 de novembro, e, também no México, o famoso Dia de Los Muertos, datas essas que são para honrarmos nossos antepassados, e também, no dia 31, temos a data do Halloween. 

 

É nesse período que a comunicação com o mundo dos mortos se torna mais forte, e é costume as práticas de adivinhação e comunicação com os espíritos.  


 

De Samhain ao Halloween 


Essa trajetória começa com a genial ideia do Papa Gregório o Primeiro, em 601 D.C, que numa tentativa de cristianização dos demais povos, ao invés de tentar acabar de vez com os costumes e tradições deles, o Papa instruiu seus missionários, que faziam o trabalho de cristianização, a reconsagrar os elementos das adorações e culto desses povos a Cristo. Assim a tradição continuaria, mas ressignificada. A antiga Igreja Católica se apossou das datas de muitas festividades pagãs para coincidir com os feriados cristãos, e até hoje os temos, para vermos como deu certo essa ideia.

 

Alguns anos depois o Papa Bonifácio IV cria o Dia de Todos os Santos (All Saint’s Day), um dia para se homenagear todos os Santos e mártires do catolicismo que não tinham uma data própria, e que originalmente se era comemorado no dia 13 de maio, mas foi com o Papa Gregório III que a data muda para dia 1º de novembro, antecedendo o dia de finados.  




Não se sabe ao certo o motivo disso, mas seguindo a ideia do Papa Gregório I, talvez a mudança foi para coincidir com Samhain, já que apesar dos esforços de cristianização do povo pagão, essa foi uma festividade que continuou firme e forte entre eles, e como era uma celebração realizada durante uns dias, aproveitar a deixa de Samhain e unir o dia de Todos os Santos logo antes do dia de finados tornava mais reconhecido os feriados cristãos. 

 

O nome antigo para o All Saint’s Day (dia de Todos os Santos) era All Hallow, conhecido também como All Hallow Eve, que posteriormente se tornou All Hallow Evening. Com isso é fácil saber a origem do nome Halloween, mas a origem da festividade ainda demora a se formar.  

 

Houve um período de forte imigração dos habitantes da Irlanda para os Estados Unidos no século XIX, e com isso as tradições irlandesas de Samhain foram levadas juntas, que se mesclaram com os feriados cristãos de finados e o dia de Todos os Santos. Também é mais do que sabido que a Igreja antigamente endemonizava os deuses e tradições de outros povos, então os espíritos dos antepassados começavam a se tornar fantasmas e seres maléficos, que visitavam os humanos para lhes fazerem mal. Tornavam-se também os famosos espíritos zombeteiros, que iriam pregar uma peça caso não lhes fossem ofertados nada. Com essa crendice, as pessoas deixavam oferendas em suas portas para acalmá-los. Com o passar do tempo, elas começaram a se fantasiar de criaturas tenebrosas, como esqueletos, bruxas, múmias, uma maneira de se divertir e pedir em troca comida ou bebida. Então... doces ou travessuras?  


 



  

A tradição de honrar os antepassados 

 

Na cultura brasileira, devido à massiva evangelização nas últimas décadas, prestar devidamente homenagem aos nossos mortos é algo bem difícil de se ver (posts em rede social não contam como homenagem). Conceitos como céu e inferno cria na mente da pessoa que só há dois lugares para os mortos irem, e que com isso não há motivos para homenagear ou honrá-los, já que descansam em paz no céu, ou queimam no colo do capiroto, ou estão num limbo dormindo enquanto não chega o dia do juízo final. Mas em outras culturas e religiões a história é outra.  A morte é um lembrete da vida, os antepassados podem se tornar nossos guias e são honrados pela sua herança deixada: a nossa existência.  

 

Segundo às crenças de algumas religiões, existem vários Planos de existência após a morte, no qual os mortos podem estar. Alguns desses Planos não são bons, e os espíritos podem estar perdidos na escuridão deles. Orar, acender uma vela, prestar homenagem aos mortos é uma maneira de levar um pouco da energia de nossas preces para dar um pouco de luz a eles, e é também pedir auxílio às forças responsáveis pela passagem para resgatá-los e auxiliá-los. 

 

Cada religião, povo e cultura têm sua própria maneira de honrar os antepassados. No México, o dia de los muertos é uma grande tradição, e segundo a ela, esse é o período que os mortos podem visitar seus familiares, e é uma data comemorada com bebidas, comida, doces, músicas, tudo o que os falecidos gostavam. É montado um altar com fotos deles, os familiares se reúnem para lembrar os bons momentos que tiveram juntos, as pessoas se fantasiam, pintam os rostos, é uma verdadeira festa, que ocorre de 31 de outubro a 2 de novembro, e tudo isso para prestar homenagens aos mortos.  





No Japão, existe o festival Obon, que é equivalente ao dia de finados. No período que ele ocorre, acredita-se que os espíritos dos antepassados voltam para visitar seus parentes. Lanternas são acesas e penduradas em frente às casas para guiá-los de volta a seus lares. Seus túmulos são limpos, e existe a tradição de ofertar alimentos e flores nos templos ou nos altares que os familiares possuem em casa dedicado aos mortos, chamados de butsudan. 


Festival de Obon  


  Altar Butsudan


 

Para os druidas, os vivos poderiam convidar os espíritos de seus antepassados para se reunirem em torno de um banquete, e nele era disponibilizado até assentos para eles se sentarem enquanto era realizado certos ritos e a tentativa de contato com o mundo dos mortos.  

 

Esses são exemplos para que seja possível notar que a tradição de homenagear os nossos mortos já perduram por muito tempo e se mantém firme e forte, e de nos lembrar de nossa passageira vida aqui e do que queremos deixar de legado, assim como também da pessoa que queremos nos tornar e sermos lembrados por isso.  

 

Elementos do Sabbat de Samhain 


Altar de Samhain    


Estes são apenas alguns exemplos:  




Ervas e plantas:  

-Capim cidreira 

-Erva-doce 

-Palhas 

-Folhas de café 

-Orégano 

-Sálvia 

-Alecrim 

 

Incensos: 

-Maçã 

-Menta 

-Heliotropo 

-Noz moscada 

-Sálvia 

 

Velas: 

-Preta  

-Laranja 

 

Pedras:    

-Ônix 

-Turmalina negra 

-Obsidiana 

-Prata 

-Todas as pedras pretas em geral 

 

Comidas:    

-Sopa 

-Raízes 

-Abóbora 

-Bolo 

-Avelã 

-uva roxa 

 

Bebidas: 

-Vinho 

-Sidra 

-Café 

-Cerveja 

-Chá de ervas 

 

        Como já disse em textos anteriores referentes aos Sabbats, aqui no momento não ensino nenhum ritual para celebração deles, pois existem diversas vertentes que os celebram e cada um com suas particularidades. Apenas proponho a quem queira celebrá-los que pesquise sobre os diversos rituais de celebração que existem e busquem os que te fazem sentir bem ou que sinta afinidade. 

 

Samhain sob perspectiva hermética 

 

Os Sabbats compõem a Roda do Ano e nos mostram que, assim como a natureza, nossas vidas também possuem ciclos, e por meio deles podemos nos sintonizar com ela e assim aprender os ensinamentos dessas passagens. 

Samhain definitivamente não é um Sabbat ou um período triste ou melancólico, lembre-se que aqui é a terceira colheita, ainda recebemos os frutos do que plantamos, então é época de gratidão pelas graças recebidas e de aproveitá-las. É um ótimo momento para começarmos a nos voltarmos para nosso interior, de honrar os nossos entes queridos que já se foram, agradecer pelo o que eles nos ensinaram, olharmos para os aprendizados passados e da sabedoria que veio deles. Agradecer por estar vivo, lembrar que a vida é passageira e que daqui não levamos nada a não ser o aprendizado dessa encarnação. Questionarmo-nos de como queremos ser lembrados após nossa partida para outro Plano, do que queremos nos tornar, e lembrar que a vida é feita de diversos ciclos repetitivos, que morremos e renascemos para diversas coisas nela. 

É o momento de compreendermos que dentro de nós existe nosso aspecto de Luz e de Sombra, e que ambos fazem parte da gente. Não adianta negar o que não gostamos em nós, fugir dos nossos medos e de nossos aspectos sombrios, pois até mesmo com eles é possível tirar algum aprendizado, é possível olhar o que nos incomoda dentro da gente e trabalhar para mudar. A Sombra não desaparece, apenas se reintegra ao nosso Ser, assim como a Luz, portanto, é possível tirar excelentes aprendizados de nossa parte sombria. É nesta época da parte escura da Roda do Ano que o contato com esse nosso lado vai se tornando mais forte, não no sentido de que nossa Sombra toma as rédeas de nosso Ser, mas que nós podemos enxergá-la e compreendê-la melhor.   




Seja grato pelo o que ganhou, aproveite os frutos de seus esforços, honre seu passado e seus antepassados, relembre dos bons momentos e dos aprendizados que carregará para toda vida aprendidos com eles. Seja grato por desfrutar em estar vivo e ter a oportunidade de poder deixar um legado aqui e ir se lapidando aos poucos nessa jornada que chamamos de vida.  


 

Referências Bibliográficas: 

 

Wicca A Feitiçaria Moderna, o livro das ervas, magias e sonhos – Gerina Dunwich 

 

A essência perdida do Saimhain nas celebrações do Halloween. Disponível em https://www.uninter.com/noticias/a-essencia-perdida-do-samhain-nas-celebracoes-do-halloween

 

Dia dos Mortos. Disponível em Dia dos Mortos – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org) 

 

Festival Obon, o mais longo e importante evento religioso do Japão. Disponível em https://mundo-nipo.com/cultura-japonesa/datas-festivas/04/08/2013/festival-obon-festival-de-homenagem-aos-mortos/

 

Halloween. Disponível em https://www.dictionary.com/e/halloween-een/ 

 

Halloween: Bruxas, doces, fantasias… de ONDE veio isso?. Disponível em. Halloween: Bruxas, Doces, Fantasias... De ONDE Veio Isso? 

 

Papa Bonifácio IV. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Bonif%C3%A1cio_IV

 

Papa Gregório I. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Greg%C3%B3rio_I

  

Por que 2 de novembro é dia de finados?. Disponível em https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/historia-por-que-2-de-novembro-e-dia-de-finados.phtml 

 

The history of Halloween or Saimhain, Day of the Dead. Disponível em The History of Halloween or Samhain, Day of the Dead (learnreligions.com) 


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