Texto revisado
em 30/06/2022
Texto de
Zayin
O defeito capital da Luxúria pode ser entendido
pela sua real definição de “entregar-se às paixões e deixar-se dominar por
elas”. Uma entrega que é muito mais do que abrir os braços para o desejo e
correr para senti-lo, essa entrega é de corpo e alma, é de racionalidade e de
bom senso, e é justamente por isso que a Luxúria se torna um mal horrível. Essa
falta de bom senso, de saber medir as nossas ações para realizar essa comunhão
com a paixão que sentimos, torna-se prejudicial seja à saúde, seja à nível
mental, emocional ou espiritual.
A Luxúria consegue ser de uma abordagem tão ampla
quanto a Gula, e por conta disso age em muitos
níveis de nossa vida, podendo nos afetar de forma até inimaginável, trazendo
consequências drásticas algumas vezes. Embora ambas possuem certa similaridade,
elas não são iguais. A Gula é um vício compulsivo, é querer sempre mais e
mais, mais do que pode aguentar. Já os atos cercados pela Luxúria são
saciáveis. E a definição dela pode ser melhor entendida pela palavra obsessão, diferente do vício da
Gula. Então a Luxúria está para obsessão e Gula está para vício.
Uma obsessão no fundo tem o prazer da
realização de um desejo, o prazer de entregar-se à paixão, seja ela qual for.
Tem um fogo que faz o seu corpo ferver e lhe toma por inteiro. Esse “fogo”, ao
entendimento popular da Luxúria, tornou-se uma expressão de erotismo, de algo sexual,
por isso sempre que se fala sobre Luxúria profanamente vai estar ligado ao sexo.
Mas esse “fogo” que digo aborda um sentido muito mais amplo do que o lado
sexual. Poderia dizer que é a faísca que acende aquela força quase impossível
de domar presente em nossos desejos, que nos faz querer ignorar tudo e se jogar
de cabeça para vivê-lo. Já a Gula é um vício desmedido, não há um prazer no
ato, muitas vezes há uma infelicidade e insatisfação escondida nela. Ela se
torna incontrolável assim como a Luxúria, e a diferença desses defeitos
capitais está nesse “fogo” que é presente na Luxúria diferente da Gula que não
o tem.
O uso da imaginação e a libido juntas podem
resultar em Luxúria. A primeira por si só já cria asas para formar a realidade
imaginária que desejarmos, logo ao deixarmos nos levar pelas imagens ilusórias
da imaginação que são formadas pela força das emoções e desejos, que até então
não estão manifestadas no plano físico, irá formar uma ponte da qual se pode
viver e sentir sutilmente a “realidade” desejada pela imaginação, incitando
então um aumento da força de nossas emoções e desejos mais do que antes,
levando-nos a querer experimentar tal desejo no plano físico. A libido, para
quem não estuda psicologia e não tem contato com esse meio, nos é dito muito a
forma e o conceito freudiano dela que é puramente a energia sexual. Para Jung,
a libido era mais ampla que esse conceito e se estendia para diversos campos de
nossas vidas, em geral em campos instintivos. O conceito de libido não se
caracterizava de forma puramente sexual para ele, e sim como uma energia
“psíquica” presente em nós usada para suprir as necessidades instintivas.
Como o conceito de Luxúria não é apenas
sexual e sim de entrega às fortes paixões que temos, a ideia de libido de Jung
é mais trabalhável para essa questão. Sendo a libido a energia que se manifesta
em nós para saciar os desejos criados pelo nosso instinto, trabalhando-a de
forma errada, usando-a sem controle para suprir os desejos das quais a maioria
temos prazer em fazer, ela vai se manifestar em Luxúria simplesmente por
abrirmos mão do controle consciente dessa energia para sentirmos prazer no que
faremos. Então a libido em si não causa a Luxúria, mas a falta de controle dela
por nossa parte é que acaba nesse defeito.
O defeito da Luxúria também é capaz de nublar
nossos sentidos espirituais. Viver uma vida espiritualizada quer dizer estar no
mundo, mas não se deixar levar por ele. Ela faz com que nos deixemos levar, e
ao deixarmos sermos envolvidos pelas coisas que de alguma forma irão prejudicar
ou nos afastar da espiritualidade, com o tempo envolvido por esses desejos
mundanos que a Luxúria faz ocorrer, eles irão acabar lentamente cegando os
nossos sentidos espirituais. Faculdades mediúnicas que estavam sendo desenvolvidas
acabam retrocedendo por conta disso, e nosso lado egóico pode se maximizar
muito mais ao cegarmos os nossos sentidos espirituais. No fim deixamos de lado
a espiritualidade para se entregar as paixões ardentes de nossos desejos.
Existem 8 características inerentes à Luxúria:
· Cegueira da mente: A pessoa fica tão entregue às suas
paixões e desejos que não consegue perceber nem raciocinar sobre os
acontecimentos, as ações e situações ao seu redor.
· Amor de si: É o amor egoísta que as pessoas criam
ao pensarem somente em si mesmas.
· Ódio de Deus: Quando entregue às paixões a pessoa
deixa de lado sua espiritualidade para viver afastada de Deus, criando em si
ódio ao criador e a todo o mundo espiritual por fazê-la se afastar das os
prazeres mundanos, e com o tempo ocorre o esquecimento da espiritualidade
fazendo com que ela se perca nas paixões mundanas.
· Apego ao mundo: As paixões e vícios criam o apego ao
mundano por causa de suas ambições e desejos para com eles, desviando assim a
pessoa dos ensinamentos espirituais.
· Inconstância: Ao entregar-se às paixões a pessoa
fica inconstante perante sua espiritualidade e assim nunca fica constante na
edificação de sua Grande Obra.
· Irreflexão: Quando as paixões deixam a pessoa
totalmente cega, ela só pensa em satisfazer seus desejos sem refletir sobre as
consequências de seus atos.
· Precipitação: O desejo de saciar as paixões se
torna tão grande que o indivíduo age por impulso perante seus instintos, sendo
precipitado em suas ações e sem pesar seus atos.
· Desespero em relação ao mundo futuro: Quando as ações feitas sem pensar ou
mal pensadas causam sérios problemas à pessoa, levando-a a se desesperar
perante o seu futuro.
O Planeta Vênus é responsável pelo defeito da
Luxúria e como virtude possui a Temperança. Para combatê-la, segundo à estrela setenária, usa-se das virtudes dos Planetas
Júpiter e Saturno (Caridade e Castidade). Castidade é o sentido de pureza que
temos em nós. Essa pureza não é como a inocência que se tem na infância na qual
por não entendermos ou não termos noção do que se passa que gera esse sentido
de inocentes e puros, mas a pureza tem que ser gerada a partir do entendimento
que temos de determinadas ações, onde essa visão nos mostra o que pode
ocasionar ao nos deixar levarmos por elas.
Ao traçar esses padrões e perceber o que eles ocasionam,
pode-se começar a trabalhar em oitavas mais altas, elevando o estado de nossos
pensamentos e sentimentos. Isso se caracteriza em dois tipos de castidade, que é
a Castidade de Pensamento e Castidade de Sentimento, onde uma trabalha a pureza
no campo mental e a outra no campo emocional. Pensamentos são mais fáceis de
controlar do que sentimentos, então estar consciente e desperto sobre tudo o
que se passa em nossos corpos é essencial para se ter domínio do que acontece
com ele.
Pela disciplina mental criamos uma ferramenta que
podemos combater a Luxúria. É como ter as rédeas na mão para controlá-la e
dirigi-la para que não se deixe levar pelos desejos que dela provêm.
Disciplinar a mente não é tarefa fácil, mas uma vez que se começa a ver a eficácia
dessa disciplina é como se não passasse despercebidos os desejos instintivos
que temos. Eles não se mostram mais tanto inconscientes como antes.
Referências:
Reflexões
com base nas leituras e estudos pessoais sobre o defeito capital correspondente
e da palestra do Café Filosófico: A castidade impossível, a luxúria
maldita. Com o
filósofo Luiz Felipe Pondé.
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