Texto de Zayin
“Ao destino dos homens eu os levo.
A altos e baixos, do céu ao inferno.
Eu sou o karma, a sorte, o azar, o destino.
Sou a eterna mudança, o indo e o vindo.
Sou as lições da vida e nada pode me parar.
Então me observe com cuidado
Para que meus desafios você possa ultrapassar.
Eu sou uma força de enorme poder.
Faço rir e chorar, trago satisfação e o sofrer.
E se nos ciclos da vida for capaz de me decifrar,
Parabéns, o seu destino um novo rumo irá tomar.
E o melhor a fazer é me acompanhar,
Pois se ir contra mim, eu irei lhe esmagar.
Posso aparecer numa hora adequada ou inoportuna,
Mas essa é minha essência, pois eu sou a Roda da Fortuna.”
A essência dos ciclos é
a eterna mudança. Não há mal que dure para sempre, nem bem que dure
eternamente. A vida é um eterno ciclo que se desdobra no universo, na natureza,
em nossas vidas. Por horas tudo está bem e em outras tudo está mal, mas uma
coisa é certa: tudo na vida passa.
O Arcano de número X se
chama A Roda da Fortuna. Ele trata justamente desses ciclos da vida, muitas
vezes compostos por momentos dos quais não gostaríamos de passar, ou sequer
imaginaríamos que teríamos que passar por tais coisas. Mas essa é sua essência,
ser uma força capaz de estar além de nossa capacidade de controlar, cabendo a
nós apenas a aceitação dela, pois ela está além de nossos domínios.
A Roda da Fortuna
representa as mudanças da vida, os ciclos, o destino, o karma, é uma roda que
gira fazendo quem está no seu topo cair, e quem está embaixo subir. Ela fala
sobre a colheita do que plantamos, mostrando que no atual momento você está
recebendo o que plantou, seja isso bom ou ruim.
É uma força maior do que nós em ação, e tentar ir contra ela é não aceitar a grande verdade de que tudo muda, e a não aceitação disso leva a um sofrimento maior e desnecessário. Conseguir observar e analisar o que os momentos de mudanças além de seu poder trazem, é ter a capacidade de tirar ensinamentos deles. E por que isso é importante?
A Roda da Fortuna
também fala sobre ciclos repetitivos em nossas vidas. Ter essa capacidade de
observar, analisar e praticar mudanças é ter o poder de quebrá-los. Quebrar
esses padrões cristalizados de comportamento que temos, e assim mudar o destino
a qual estávamos fadados, e aqui você pode atribuir o significado de destino a
uma força espiritual ou além de nossa compreensão que comanda as lições que
precisamos passar para evoluir, ou então, atribuir ao inconsciente como Jung
faz.
“Até você se tornar consciente, o inconsciente irá dirigir sua vida e
você irá chamá-lo de destino” - Carl G. Jung
Nota-se a figura de um ser vermelho no lado direito subindo a
roda. Alguns autores dizem ser o deus Hermanúbis, sincretismo do deus Hermes
com Anúbis. Outros já dizem ser a junção de Hórus com Anúbis, ou apenas o
último. Esses deuses agem como um psicopompo [psyché (alma) e pompós (guia)],
logo é uma espécie de condutor da alma. Sua imagem arquetípica nas terapias é o
processo de trazer algo do inconsciente para o consciente, o que reforça a
frase de Jung no parágrafo acima, quebrando assim os padrões inconscientes que
conduzem a ciclos repetitivos.
No topo da roda tem-se a esfinge. Ela é um ser mitológico com
corpo de animal, no qual suas patas traseiras são de leão e as dianteiras de
boi, possui asa de águia e uma cabeça humana. A representação dos 4 elementos
num único ser. Mostrando que a esfinge é o equilíbrio em si, por isso está no
topo da roda. Uma famosa frase do mito dela é “Decifra-me ou te devoro”, uma
frase bem interessante para se aplicar a este arcano.
Nos quatro cantos temos mais uma alusão aos 4 elementos, mas
também aos 4 seres viventes presentes no livro de Ezequiel na bíblia, o Homem;
o Touro; o Leão; a Águia. E mais uma alusão é feita no Tetragrammaton de Yod He
Vav He escrito na roda. Portanto, a chave aqui é encontrar o equilíbrio para saber
passar pelos ciclos de altos e baixos que vida nos põe.
A serpente descendo a roda do lado esquerdo seria tifão, um
ser mitológico, personificação dos terremotos e tufões, filho de Gaia e
Tártaro, que se uniram para o gerar com o objetivo de vingança contra Zeus e o
Olimpo após a Titanomaquia. Ela está aqui para representar os aspectos
horrendos e negativos do ser, que caindo da roda, não mais afeta o indivíduo,
mas é preciso ficar atento, pois uma hora esse aspecto pode predominar no topo.
No centro da roda tem-se seu eixo dividido num aro de 8
partes, simbolizando os ciclos da natureza presentes nos Sabbats que são 8. E
neles os símbolos alquímicos do mercúrio, sal e enxofre, e possivelmente o
símbolo de aquário também, segundo alguns autores. Todos eles representando
processos de trabalho de via interior para superar antigas formas do ser.
Então neste momento em sua vida, qual das três ideias
representadas pelas figuras na roda se faz presente? Alguém equilibrado que
está sabendo lidar com o momento; alguém tentando melhorar para quebrar ou
superar o atual ciclo; ou alguém que deixa tudo de ruim que o inconsciente traz
dirigir sua vida?
A Roda da Fortuna nos lembra dos ciclos da vida, que tudo
passa, e a nós cabe às vezes aceitar o destino dado por uma força maior que a
gente e tirar proveito disso, mas também saber o que está em nosso poder e
praticar a mudança em nós, para que não nos enganemos com um falso destino
predestinado, quando, na verdade, a culpa dos ciclos pode estar vindo de nossas
decisões inconscientes.
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